Bisfosfonatos em cães
- Felipe Garofallo

- 9 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Os bisfosfonatos são medicamentos utilizados para inibir a reabsorção óssea, atuando principalmente sobre os osteoclastos — células responsáveis pela degradação do tecido ósseo.

Embora tenham sido desenvolvidos inicialmente para uso humano, principalmente no tratamento de osteoporose e metástases ósseas, esses fármacos vêm ganhando espaço na medicina veterinária, especialmente no manejo de doenças ósseas em cães.
Seu uso tem sido explorado em contextos oncológicos, ortopédicos e paliativos, com o objetivo de preservar a integridade óssea e controlar a dor relacionada a processos osteolíticos.
Em cães, os bisfosfonatos são indicados sobretudo em casos de osteossarcoma, mieloma múltiplo, metástases ósseas de neoplasias mamárias ou prostáticas, e outras condições que envolvem destruição óssea local.
O benefício clínico mais evidente está no alívio da dor, pois a estabilização do tecido ósseo reduz a estimulação dos nociceptores periostais e melhora significativamente a qualidade de vida do animal, mesmo quando a doença de base não pode ser curada.
Entre os bisfosfonatos mais utilizados na prática veterinária, destacam-se o alendronato de sódio (administrado por via oral) e o pamidronato e zoledronato (ambos por via intravenosa). O alendronato é geralmente manipulado e administrado uma vez por semana, sendo uma opção interessante para tutores que preferem tratamento domiciliar.
Já o pamidronato e o zoledronato são usados em ambiente hospitalar, com infusões periódicas sob monitoramento clínico e laboratorial.
O mecanismo de ação desses medicamentos envolve a inibição da atividade e indução da apoptose dos osteoclastos. Com isso, há uma desaceleração do processo de reabsorção óssea, o que ajuda a preservar a arquitetura óssea e reduzir o risco de fraturas patológicas. Além disso, estudos sugerem que os bisfosfonatos também têm um leve efeito antiangiogênico e imunomodulador, podendo interferir na progressão tumoral — embora esse benefício ainda esteja em investigação no âmbito veterinário.
É importante considerar os efeitos colaterais associados ao uso dessa classe de medicamentos. A administração oral pode causar irritação esofágica e gástrica, especialmente se o paciente apresentar refluxo gastroesofágico ou não for mantido em posição ereta após a ingestão.
Já as formulações intravenosas podem causar alterações renais, como aumento transitório da ureia e creatinina, além de letargia ou anorexia temporária após a infusão. Por isso, o uso deve ser feito com cautela em cães com insuficiência renal ou histórico de intolerância digestiva, e sempre com acompanhamento veterinário.
Embora os bisfosfonatos não sejam considerados tratamento de primeira linha para doenças ósseas, seu papel como coadjuvante em protocolos analgésicos é cada vez mais reconhecido.
Eles costumam ser associados a outros medicamentos como anti-inflamatórios, opioides, gabapentina, amantadina e, em alguns casos, corticoides, formando um esquema de analgesia multimodal. Essa abordagem combinada é especialmente útil em pacientes oncológicos que já não respondem bem aos analgésicos convencionais.
Em resumo, os bisfosfonatos representam uma alternativa terapêutica importante para o controle da dor e preservação estrutural em cães com doenças ósseas agressivas. Quando bem indicados e monitorados, esses medicamentos podem proporcionar conforto e dignidade a pacientes que enfrentam condições dolorosas e, muitas vezes, de difícil manejo clínico.
O uso racional, baseado em avaliação individualizada e acompanhamento constante, é essencial para garantir a segurança e eficácia do tratamento.
Referências bibliográficas:
Fan, T. M., de Lorimier, L. P., Charney, S. C., Garrett, L. D., Griffon, D. J., & Wypij, J. M. (2007). Use of alendronate for palliation of osteolytic bone lesions in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, 21(3), 535–538.
Allen, M. J. (2003). Clinical applications of bisphosphonates in veterinary medicine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 33(1), 153–170.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.