Zoledronato em cães
- Felipe Garofallo
- 9 de jul.
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Atualizado: há 4 dias
O Zoledronato, também conhecido como ácido zoledrônico, é um bisfosfonato de terceira geração, altamente potente, utilizado principalmente no tratamento de doenças ósseas associadas à reabsorção excessiva do tecido ósseo.

Embora seu uso seja amplamente consolidado na medicina humana — principalmente em casos de metástases ósseas, mieloma múltiplo, osteoporose grave e hipercalcemia maligna —, o Zoledronato também vem sendo explorado de forma off-label na medicina veterinária, especialmente no manejo da dor óssea em cães oncológicos ou com doenças osteolíticas extensas.
Seu mecanismo de ação baseia-se na inibição intensa da atividade osteoclástica. Após ser administrado por via intravenosa, o zoledronato se liga à matriz óssea, sendo absorvido durante o processo de remodelação. Uma vez internalizado pelos osteoclastos, o fármaco induz a apoptose dessas células, reduzindo drasticamente a reabsorção óssea.
Isso resulta em preservação estrutural, redução da fragilidade e, mais importante, controle eficaz da dor óssea — um dos sintomas mais debilitantes em cães com neoplasias ósseas primárias ou metastáticas.
Na prática clínica veterinária, o zoledronato tem se mostrado eficaz no tratamento de cães com osteossarcoma, metástases ósseas de tumores mamários ou prostáticos, mieloma múltiplo e, em casos selecionados, em doenças inflamatórias com componente osteolítico.
A via de administração é exclusivamente intravenosa, com infusão lenta, geralmente a cada 21 a 28 dias. A dose mais utilizada em cães gira em torno de 0,1 a 0,2 mg/kg, diluída em solução fisiológica e administrada ao longo de 15 a 30 minutos, com monitoramento clínico durante a infusão.
Comparado a outros bisfosfonatos como o pamidronato, o zoledronato apresenta potência superior e menor tempo de infusão, o que o torna uma alternativa interessante em contextos hospitalares com boa estrutura.
No entanto, justamente por sua maior potência, os riscos de efeitos adversos também precisam ser considerados com mais atenção. O principal ponto de cautela é a função renal, já que o zoledronato é eliminado quase que exclusivamente pelos rins. Em cães com doença renal pré-existente, o uso deve ser criterioso, com hidratação adequada e controle laboratorial rigoroso de ureia, creatinina e eletrólitos antes de cada aplicação.
Outros efeitos colaterais relatados incluem letargia, anorexia transitória e, raramente, alterações gastrointestinais ou alterações eletrolíticas, como hipocalcemia. Embora menos frequente que em humanos, a possibilidade de osteonecrose mandibular também deve ser considerada em tratamentos prolongados, especialmente em pacientes com problemas dentários ou que necessitem de procedimentos orais invasivos.
O zoledronato raramente é utilizado como monoterapia. Seu uso mais efetivo ocorre dentro de um protocolo multimodal de analgesia, incluindo anti-inflamatórios não esteroidais, opioides, gabapentina, amantadina e, em alguns casos, corticoides.
A resposta clínica costuma ser evidente após uma ou duas aplicações, com relato de melhora na marcha, apetite e disposição geral. Em contextos paliativos, especialmente quando a cirurgia não é viável, o zoledronato pode representar uma alternativa valiosa para restaurar o conforto do animal.
Embora ainda faltem estudos clínicos amplos em medicina veterinária, a experiência acumulada em centros especializados e os dados provenientes da oncologia humana indicam que o zoledronato pode ser uma ferramenta eficaz e relativamente segura para o controle da dor óssea em cães. Como todo tratamento off-label, deve ser usado com responsabilidade, monitoramento e consentimento informado do tutor, sempre priorizando o bem-estar e a qualidade de vida do paciente.
Referências bibliográficas:
Fenger, J. M., London, C. A., & Kisseberth, W. C. (2014). Canine osteosarcoma: a naturally occurring disease to inform pediatric oncology. ILAR Journal, 55(1), 69–85.
Allen, M. J. (2003). Clinical applications of bisphosphonates in veterinary medicine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 33(1), 153–170.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.