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Pivot Shift em cães: instabilidade rotacional no joelho

Atualizado: 12 de set.

O termo Pivot Shift descreve um tipo específico de instabilidade rotacional do joelho, frequentemente observado em cães com ruptura do ligamento cruzado cranial (LCC).


Border Collie correndo em alta velocidade, representando raças ativas que podem desenvolver instabilidade rotacional no joelho, como o Pivot Shift, após ruptura do ligamento cruzado cranial.

Trata-se de um fenômeno biomecânico no qual a tíbia gira internamente e desliza abruptamente em relação ao fêmur durante o movimento, gerando um "salto" perceptível na articulação, principalmente na fase de apoio e início da propulsão do membro.


Enquanto na medicina humana o Pivot Shift é bem descrito e amplamente utilizado como teste clínico para avaliar lesões do ligamento cruzado anterior (LCA), na medicina veterinária o conceito vem ganhando atenção nos últimos anos, sobretudo em casos nos quais os cães continuam apresentando claudicação, dor ou instabilidade mesmo após a realização de cirurgias corretivas como TPLO ou TTA.


Do ponto de vista biomecânico, o LCC saudável atua não apenas como limitador do deslocamento cranial da tíbia, mas também como importante restritor da rotação interna da mesma. Quando ocorre a ruptura, o joelho passa a apresentar instabilidade em múltiplos planos — cranial-caudal, rotacional e compressivo.


O Pivot Shift representa justamente essa falha no controle rotacional, onde a tíbia perde sua centralização dinâmica em relação ao fêmur, favorecendo um padrão de deslocamento anormal durante a locomoção.


Na prática clínica, identificar o Pivot Shift em cães pode ser desafiador. Diferentemente dos humanos, não existe um teste padronizado amplamente validado para sua detecção. No entanto, sinais como instabilidade rotacional observada sob sedação, marcha hesitante com leve flexão do joelho, desvio medial repentino ou desconforto em pisos lisos podem indicar sua presença.


Muitos cães com Pivot Shift desenvolvem compensações na pelve ou nos músculos adjacentes, tentando estabilizar a articulação de forma adaptativa, o que pode mascarar a verdadeira origem da claudicação.


Situações em que uma TPLO foi realizada com implante bem posicionado, sem sinais de infecção ou frouxidão evidente, mas ainda assim o animal apresenta dor recorrente ou instabilidade, devem levantar a suspeita para o Pivot Shift.


A importância do Pivot Shift está diretamente ligada às falhas clínicas pós-operatórias. Diversos estudos relatam que, mesmo após correção do deslocamento cranial da tíbia, muitos cães mantêm instabilidade rotacional residual.


Essa instabilidade sutil, mas funcionalmente significativa, pode ser a responsável pela persistência da dor, pela progressão da osteoartrose e até pela insatisfação do tutor com os resultados cirúrgicos.


Raças grandes e ativas, como Labrador, Rottweiler e Border Collie, parecem ser particularmente suscetíveis a esse tipo de instabilidade residual, talvez por exigirem mais da articulação durante suas atividades.


O tratamento do Pivot Shift ainda é um campo em desenvolvimento na ortopedia veterinária. Em alguns casos, o reforço lateral do joelho, com técnicas como o uso de tightrope ou ligamentoplastias extracapsulares, como a sutura fabelo-tibial pode contribuir para a estabilização rotacional.


Mais do que buscar uma técnica específica, o ponto central está no reconhecimento precoce do Pivot Shift como causa biomecânica da falha clínica. Muitos casos tidos como “falha da placa” ou “erro cirúrgico” podem, na verdade, estar relacionados a essa instabilidade rotacional não abordada.


Uma reavaliação criteriosa, associada ao entendimento da biomecânica envolvida, permite ao cirurgião ortopedista oferecer orientações mais precisas aos tutores e planejar estratégias terapêuticas mais completas.


À medida que os métodos de imagem dinâmica se tornam mais acessíveis e novos implantes são desenvolvidos com foco na estabilização rotacional, o diagnóstico e o manejo do Pivot Shift tendem a se tornar mais eficazes. Até lá, a atenção clínica e o conhecimento biomecânico seguem sendo as principais ferramentas do ortopedista para lidar com esse desafio.

Referências:

Kowaleski, M. P., Boudrieau, R. J., & Beale, B. S. (2018). Diagnostic and surgical management of stifle instability in the dog. In: Tobias, K. M., & Johnston, S. A. (Eds.), Veterinary Surgery: Small Animal (2nd ed.). Elsevier.


Pozzi, A., & Cook, J. L. (2009). Tibial plateau leveling osteotomy and medial meniscal release: a prospective clinical evaluation of 137 stifles. Veterinary Surgery, 38(6), 618–626.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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