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Todo gato tricolor é fêmea?

Entre as curiosidades mais conhecidas do universo felino, a afirmação de que “todo gato tricolor é fêmea” é provavelmente a mais repetida.


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De fato, a maioria absoluta dos gatos com essa pelagem é composta por fêmeas, e isso não é coincidência, mas sim resultado direto da genética.


A pelagem tricolor, chamada também de calico, tartaruga com branco ou escaminhas, combina manchas pretas, laranjas e brancas de forma única em cada indivíduo.


Essa distribuição de cores, aparentemente aleatória, está intimamente relacionada ao cromossomo X, responsável por carregar os genes que definem as tonalidades preta e laranja no pelo dos gatos.


As fêmeas, por possuírem dois cromossomos X (XX), podem expressar as duas cores ao mesmo tempo: em um cromossomo pode estar o gene que determina a cor preta, enquanto no outro está presente o gene que produz a cor laranja.


Quando esses genes se manifestam em conjunto e se associam à presença de áreas de pelo branco — controladas por outro gene independente — forma-se a pelagem característica tricolor. É por isso que cada gata calico é única, com manchas distribuídas em padrões que nunca se repetem de forma idêntica.


Já os machos, que possuem um cromossomo X e um Y (XY), só têm a possibilidade de expressar uma cor ligada ao X: ou preto, ou laranja. Isso impede que, naturalmente, apresentem as duas cores ao mesmo tempo.


A única forma de um gato macho ser tricolor é quando ocorre uma alteração genética rara chamada síndrome de Klinefelter, em que o animal nasce com três cromossomos sexuais (XXY).


Nesses casos excepcionais, o gato pode carregar genes para preto e laranja ao mesmo tempo e, com a adição do branco, se tornar tricolor. No entanto, esses gatos machos representam menos de 0,1% da população felina e, além disso, geralmente são estéreis e podem apresentar maior predisposição a alguns problemas de saúde.


Essa relação entre cor da pelagem e genética reprodutiva tornou-se tão marcante que muitas pessoas utilizam a presença da pelagem tricolor como uma forma prática de identificar o sexo de filhotes recém-nascidos, quando ainda é difícil visualizar as características genitais.


Embora não substitua um exame clínico, a chance de acerto é altíssima: ao ver um filhote tricolor, pode-se afirmar com quase absoluta certeza de que se trata de uma fêmea.


Além do aspecto biológico, os gatos tricolores carregam um peso cultural e até mesmo místico em diversas sociedades.


No Japão, por exemplo, acredita-se que as gatas calico tragam sorte e prosperidade, sendo comum a representação dessas cores nas tradicionais estatuetas Maneki Neko.


Em outros lugares do mundo, a raridade dos machos tricolores também gera fascínio, e não é incomum que tutores que tenham um desses raríssimos exemplares os considerem animais especiais.


É importante, no entanto, desmistificar algumas ideias. A pelagem tricolor não influencia diretamente no temperamento do gato, como às vezes se acredita.


Embora cada animal tenha personalidade própria, não há evidências científicas de que as gatas calico sejam mais temperamentais ou dóceis do que gatos de outras cores. Também não existe relação entre a pelagem tricolor e a ocorrência de doenças, exceto nos raros machos XXY, que podem apresentar alterações relacionadas ao cromossomo extra.


Para os tutores, entender essa característica vai além da curiosidade: reforça a importância do conhecimento sobre genética e saúde felina. Saber que quase todos os gatos tricolores são fêmeas ajuda a compreender melhor a diversidade do mundo animal e desperta ainda mais interesse pelo cuidado responsável com esses companheiros.


Em resumo, afirmar que “todo gato tricolor é fêmea” não é um mito, mas uma verdade sustentada pela biologia, com raríssimas exceções explicadas pela genética.


Os gatos tricolores, além de belos, carregam consigo um exemplo perfeito de como a natureza combina ciência e singularidade, transformando cada pelagem em uma assinatura única.


Assim, cada gata calico é não apenas uma companheira especial, mas também um lembrete vivo da complexidade fascinante que existe por trás de algo aparentemente simples como a cor dos pelos.


Referências bibliográficas


Robinson, R. (1991). Genetics for Cat Breeders. Pergamon Press.


Lyons, L. A. (2015). Genetic testing in domestic cats. Molecular and Cellular Probes, 29(5), 311–317.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



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