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Síndrome de Klinefelter em cães e gatos: existe?

A síndrome de Klinefelter é uma condição genética rara que pode afetar cães e gatos, assim como acontece em seres humanos. Ela ocorre quando o animal nasce com um cromossomo sexual a mais, formando o cariótipo XXY em vez do padrão masculino normal XY.


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Essa alteração parece pequena, mas provoca consequências importantes no desenvolvimento reprodutivo, no equilíbrio hormonal e, em alguns casos, na saúde geral do animal.


Nos felinos, a síndrome de Klinefelter é mais conhecida porque está diretamente ligada a um fenômeno curioso: os gatos machos tricolores.


Normalmente, apenas fêmeas apresentam a pelagem com três cores — preto, laranja e branco — já que as cores preta e laranja estão ligadas ao cromossomo X. Como as fêmeas têm dois cromossomos X, podem carregar ao mesmo tempo os genes para ambas as cores.


Os machos, por terem apenas um cromossomo X, só conseguem expressar uma das duas cores. Assim, quando surge um gato macho tricolor, o mais provável é que ele apresente a síndrome de Klinefelter, ou seja, tenha nascido com a combinação XXY.


Esses gatos costumam ter aparência normal de machos, mas quase sempre são estéreis e apresentam alterações hormonais discretas, como níveis reduzidos de testosterona. Em alguns casos, podem ser mais propensos a problemas de saúde, como obesidade, diabetes e alterações no sistema reprodutivo.


Em cães, a síndrome é ainda mais rara e menos perceptível visualmente. Diferente dos gatos, nos quais a pelagem denuncia a anomalia genética, nos cães a cor dos pelos não está diretamente ligada ao cromossomo X. Isso significa que, na maioria das vezes, os sinais só aparecem quando há investigação de infertilidade ou observação de características físicas incomuns.


Machos com Klinefelter podem ter testículos pequenos (hipoplasia testicular), baixa produção de espermatozoides e falhas no comportamento sexual.


Alguns estudos sugerem que esses cães podem ter risco maior de desenvolver problemas hormonais e metabólicos ao longo da vida, mas como a condição é rara, as informações ainda são limitadas.


O diagnóstico da síndrome de Klinefelter em cães e gatos só pode ser confirmado por exames genéticos, como a cariotipagem, que permite visualizar diretamente os cromossomos do animal.


Entretanto, sinais como infertilidade persistente, alterações testiculares ou, no caso dos gatos, a presença de um macho tricolor, levantam fortes suspeitas.


Na prática clínica, muitos desses animais acabam vivendo normalmente, e o diagnóstico só é considerado quando o tutor procura explicações para a falta de reprodução ou para problemas de saúde associados.


O tratamento não é possível, já que se trata de uma condição genética, mas o manejo clínico é fundamental.


Acompanhamento veterinário regular, controle rigoroso de peso e prevenção de doenças endócrinas ajudam a oferecer qualidade de vida.


Em alguns casos, recomenda-se a castração cirúrgica para evitar complicações decorrentes da disfunção hormonal e reduzir o risco de tumores relacionados às gônadas.


A síndrome de Klinefelter, apesar de rara, é um exemplo fascinante de como a genética influencia não apenas a aparência dos animais, mas também sua saúde e fertilidade.


No caso dos gatos, ela explica de forma direta um dos maiores mitos felinos: o fato de praticamente todos os tricolores serem fêmeas. Já nos cães, lembra aos tutores e profissionais que, por trás da infertilidade ou de alterações sutis no desenvolvimento, pode existir uma alteração cromossômica de difícil percepção.


Em resumo, cães e gatos com síndrome de Klinefelter podem levar uma vida saudável e feliz, desde que recebam cuidados adequados e acompanhamento veterinário.


O tutor deve enxergar essa condição não como uma limitação, mas como uma característica genética única, que torna o animal ainda mais especial.

Referências bibliográficas

Lyons, L. A., & Fogh, A. (2017). Sex chromosome abnormalities in the domestic cat (Felis catus). Cytogenetic and Genome Research, 151(2), 151–158.


Meyers-Wallen, V. N. (2006). Gonadal and sex differentiation disorders in dogs and cats. Sexual Development, 1(1), 46–60.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



 
 

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