Tempo de protrombina em cães: quando pedir e como interpretar
- Felipe Garofallo
- há 3 dias
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O tempo de protrombina (TP) é um exame de coagulação que avalia a via extrínseca e a via comum da cascata de coagulação, sendo fundamental na investigação de distúrbios hemorrágicos em cães.

Esse exame mede o tempo que o plasma leva para formar um coágulo após a adição de tromboplastina e cálcio, simulando o processo de ativação da coagulação por lesões teciduais.
O TP é especialmente útil para detectar deficiências ou disfunções nos fatores de coagulação II, V, VII e X, além da fibrinogênio, todos sintetizados no fígado e dependentes, em maior ou menor grau, da vitamina K.
Na rotina clínica, o exame de tempo de protrombina deve ser solicitado quando o cão apresenta sinais clínicos de sangramento inexplicado, como petéquias, equimoses, hematomas espontâneos, sangramento gengival, epistaxe ou sangramento prolongado após procedimentos simples como punção venosa.
Além disso, é indicado em avaliações pré-operatórias de pacientes com suspeita de coagulopatias, principalmente quando existe histórico de doenças hepáticas, intoxicação por rodenticidas (anticoagulantes), ou uso de medicamentos que possam interferir na coagulação.
Cães com icterícia, ascite ou histórico de envenenamento também devem ser avaliados com TP, já que essas condições podem indicar comprometimento hepático ou inibição dos fatores de coagulação dependentes de vitamina K.
A interpretação dos resultados deve ser feita com cautela. Um tempo de protrombina prolongado indica uma falha na via extrínseca ou na via comum da coagulação. Isso pode ocorrer em casos de deficiência de fator VII, que é o primeiro a se alterar em quadros de deficiência de vitamina K ou hepatopatias.
Em intoxicações por rodenticidas anticoagulantes, por exemplo, o TP é o primeiro a se alterar, frequentemente antes mesmo do aparecimento de sinais clínicos.
Já quando o TP está dentro dos valores de referência, mas o cão ainda apresenta sangramentos, deve-se considerar outras alterações, como no tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA), função plaquetária ou doenças vasculares.
O tempo de protrombina também pode ser afetado por fatores técnicos, como coleta inadequada, hemólise da amostra ou anticoagulante em excesso.
Por isso, é fundamental que a coleta seja feita de maneira correta, utilizando citrato de sódio na proporção adequada, e que a amostra seja processada o mais rápido possível. Valores de referência podem variar entre laboratórios, mas geralmente estão entre 6 e 10 segundos em cães saudáveis.
Em pacientes com TP prolongado, a abordagem terapêutica dependerá da causa. Em casos de intoxicação por rodenticidas, a administração de vitamina K1 é o tratamento de escolha. Já em hepatopatias graves, pode ser necessário o suporte com plasma fresco congelado, além do tratamento da doença de base.
De qualquer forma, a avaliação do tempo de protrombina deve ser sempre contextualizada com a história clínica, o exame físico e outros exames laboratoriais do paciente.
Referências bibliográficas
Stockham SL, Scott MA. Fundamentals of Veterinary Clinical Pathology. 2nd ed. Ames, IA: Blackwell Publishing; 2008.
Thrall MA, Weiser G, Allison RW, Campbell TW. Veterinary Hematology and Clinical Chemistry. 2nd ed. Wiley-Blackwell; 2012.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.