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Relação entre ângulo tibial e ruptura do ligamento cruzado cranial

A relação entre o ângulo tibial e a predisposição à ruptura do ligamento cruzado cranial (LCCr) em cães é um dos aspectos biomecânicos mais estudados na ortopedia veterinária.


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O LCCr é o principal estabilizador do joelho, impedindo o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur durante a locomoção. Quando esse ligamento se rompe, ocorre instabilidade articular, dor e claudicação, frequentemente exigindo intervenção cirúrgica.


Entretanto, antes da ruptura propriamente dita, há uma série de fatores anatômicos e mecânicos que predispõem o joelho à lesão, entre eles, o ângulo do platô tibial desempenha papel central.

O ângulo tibial, também chamado de “tibial plateau angle” (TPA), representa a inclinação da superfície articular da tíbia em relação ao eixo longitudinal do osso. Em cães normais, esse ângulo geralmente varia entre 22° e 26°, embora haja variação entre raças. Um ângulo maior implica em uma superfície tibial mais inclinada, o que aumenta a força de cisalhamento cranial durante o apoio do membro.


Isso significa que, a cada passo, a tíbia tende a se deslocar cranial em relação ao fêmur, exercendo maior tensão sobre o ligamento cruzado cranial. Com o tempo, esse estresse repetitivo leva à degeneração progressiva das fibras ligamentares, culminando em ruptura parcial ou total, mesmo sem um evento traumático específico.

Estudos mostram que raças com ângulo tibial elevado, como Labrador Retriever, Boxer e Rottweiler apresentam maior incidência de ruptura do LCCr, reforçando a relação direta entre morfologia óssea e instabilidade articular. Além disso, fatores como sobrepeso, fraqueza muscular e desalinhamentos do eixo do membro pélvico potencializam os efeitos do ângulo aumentado, tornando o joelho ainda mais vulnerável. Em contrapartida, cães com ângulo tibial mais baixo tendem a ter menor risco de ruptura espontânea, embora possam sofrer a lesão em casos traumáticos ou degenerativos de outra natureza.

A compreensão dessa relação anatômica é essencial para o planejamento cirúrgico. Procedimentos como a TPLO (osteotomia de nivelamento do platô tibial) e a TTA (avanço da tuberosidade tibial) baseiam-se justamente na modificação da biomecânica do joelho para neutralizar a força de cisalhamento provocada pelo ângulo tibial. Ao reduzir o TPA ou alterar a direção da força do tendão patelar, essas técnicas eliminam a necessidade funcional do ligamento cruzado cranial, restabelecendo a estabilidade articular e permitindo que o cão retorne à atividade normal com menor risco de recidiva.

Portanto, o ângulo tibial não é apenas uma medida anatômica, mas um indicador preditivo da saúde biomecânica do joelho canino. Identificar e monitorar cães com ângulo elevado pode permitir intervenções preventivas, como controle de peso, fortalecimento muscular e manejo de impacto que diminuem o risco de ruptura ligamentar precoce.


O entendimento dessa relação é, sem dúvida, uma das bases para a ortopedia veterinária moderna e para a evolução das técnicas cirúrgicas que devolvem a funcionalidade e a qualidade de vida aos pacientes.


Referências

  1. Slocum, B., & Slocum, T.D. Tibial Plateau Leveling Osteotomy for Repair of Cranial Cruciate Ligament Rupture in the Canine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 1993.

  2. Kowaleski, M.P., Boudrieau, R.J., & Pozzi, A. Stifle Joint. In: Tobias, K.M., & Johnston, S.A. (Eds.) Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier, 2018.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



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