Existe torcicolo em cães?
- Felipe Garofallo

- 7 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Embora o termo "torcicolo" não seja frequentemente usado na medicina veterinária com a mesma frequência que na medicina humana, ele descreve adequadamente um quadro de inclinação ou rotação anormal da cabeça e do pescoço, geralmente acompanhada de dor ou rigidez.

Em cães, essa alteração postural pode ter diversas causas, e é fundamental uma investigação clínica criteriosa para identificar a origem do problema.
O torcicolo em cães pode ser causado por distúrbios musculares, neurológicos, vestibulares ou até mesmo por processos inflamatórios e traumáticos. Uma das causas mais comuns é a doença vestibular, especialmente em cães idosos.
Nessa condição, o animal apresenta desorientação, inclinação da cabeça para um dos lados, perda de equilíbrio, movimentos involuntários dos olhos (nistagmo) e dificuldade para andar.
A origem pode ser periférica, envolvendo o ouvido interno, ou central, relacionada ao cérebro, mais especificamente ao tronco encefálico ou cerebelo. Além da síndrome vestibular, alterações musculares também podem ser responsáveis pela postura anormal do pescoço.
O espasmo ou inflamação de músculos cervicais, como o esternocleidomastoideo canino (muito embora a anatomia exata do pescoço dos cães difira da humana), pode causar dor intensa e uma postura compensatória do pescoço inclinando-se para o lado oposto ao da lesão.
Essas dores musculares podem ocorrer após brincadeiras bruscas, pulos ou até por lesões durante passeios com coleiras inadequadas.
Outra causa importante a ser considerada é a hérnia de disco cervical, comum em raças como Dachshund, Shih Tzu e Lhasa Apso.
Quando há compressão da medula espinhal cervical, o cão pode apresentar dor ao movimentar o pescoço, vocalização ao ser tocado, relutância em se movimentar e manter a cabeça inclinada ou com rigidez. Nessas situações, o diagnóstico por imagem, como a tomografia ou a ressonância magnética, pode ser necessário para confirmar a suspeita.
Infecções, como otites internas, também podem provocar sintomas semelhantes ao torcicolo, especialmente quando há envolvimento do labirinto.
Tumores intracranianos ou na região cervical, embora menos comuns, também precisam ser considerados em casos persistentes ou progressivos.
Além disso, intoxicações e doenças inflamatórias imunomediadas do sistema nervoso central também podem causar sinais neurológicos compatíveis com torcicolo. É importante ressaltar que o tratamento vai depender da causa subjacente.
Enquanto alguns casos de torcicolo vestibular idiopático em cães idosos melhoram espontaneamente com cuidados de suporte, como antieméticos e fluidoterapia, outros requerem intervenções específicas, como antibióticos para infecções, anti-inflamatórios, relaxantes musculares ou mesmo cirurgia nos casos de hérnia discal.
A avaliação por um médico-veterinário é indispensável, especialmente quando o sintoma persiste por mais de 24 horas, piora com o tempo ou é acompanhado de outros sinais clínicos como febre, letargia, perda de apetite ou dificuldade de locomoção.
Em suma, o torcicolo em cães não é uma doença em si, mas um sinal clínico que pode estar associado a diferentes condições. Sua presença deve sempre ser levada a sério e investigada com atenção para garantir o bem-estar do animal e evitar complicações mais graves.
Referências bibliográficas:
Lorenz, M. D., Coates, J. R., & Kent, M. (2011). Handbook of Veterinary Neurology. Elsevier Health Sciences.
Platt, S. R., & Olby, N. J. (2013). BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology (4th ed.). British Small Animal Veterinary Association.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.