Como a genética influencia a predisposição a problemas ortopédicos em cães e gatos
- Felipe Garofallo
- 26 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de jul.
A genética desempenha um papel crucial na predisposição a problemas ortopédicos em animais, influenciando desde a conformação óssea até a integridade dos tecidos conjuntivos. Muitos distúrbios ortopédicos, especialmente em cães e gatos, têm um forte componente hereditário, tornando fundamental o estudo da genética na medicina veterinária para a prevenção e manejo dessas condições.

Um dos exemplos mais conhecidos de predisposição genética a problemas ortopédicos é a displasia coxofemoral, uma condição comum em cães de grande porte, como Labrador Retrievers, Pastores Alemães e Golden Retrievers. A displasia coxofemoral é uma doença multifatorial, na qual a genética desempenha um papel significativo, mas fatores ambientais, como nutrição e nível de atividade física, também influenciam sua manifestação.
Estudos demonstram que a herança poligênica da displasia coxofemoral resulta em uma laxidão excessiva da articulação do quadril, levando a degeneração progressiva e artrite ao longo da vida do animal.
A luxação de patela é outra condição ortopédica de origem genética bastante observada, principalmente em cães de raças pequenas, como Poodles, Yorkshire Terriers e Chihuahuas. Essa patologia ocorre devido a uma malformação congênita dos membros posteriores, que leva ao deslocamento da patela para fora de sua posição anatômica.
A transmissão genética desse distúrbio é complexa e não segue um padrão mendeliano simples, mas estudos sugerem que a seleção genética pode reduzir sua incidência em populações afetadas.
Outro problema ortopédico hereditário relevante é a ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC), que ocorre com maior frequência em raças como Labrador Retriever, Rottweiler e Bulldog Inglês. Pesquisas indicam que há um componente genético que predispõe alguns cães à fraqueza do ligamento cruzado cranial, tornando-os mais propensos a rupturas espontâneas, mesmo sem traumas significativos. A RLCC frequentemente está associada a conformações articulares desfavoráveis, como uma tíbia excessivamente inclinada, característica que pode ser transmitida geneticamente.
Além das condições articulares, a osteocondrodisplasia também tem uma base genética marcante. Essa doença afeta principalmente raças condrodistróficas, como Dachshunds, Basset Hounds e Corgis, e é caracterizada por um desenvolvimento anormal da cartilagem, levando a deformidades ósseas e aumento da predisposição a hérnias de disco. A condição é herdada de forma autossômica recessiva em algumas raças, enquanto em outras pode apresentar um padrão de herança mais complexo.
O impacto da genética nas doenças ortopédicas não se limita apenas a cães. Em gatos, por exemplo, a displasia coxofemoral é mais rara, mas pode ser encontrada em raças como Maine Coon e Devon Rex. Além disso, a osteocondrodisplasia escocesa, observada na raça Scottish Fold, resulta de uma mutação genética que afeta o desenvolvimento da cartilagem, levando a deformidades ósseas severas e dor crônica.
Dado o impacto da genética na predisposição a doenças ortopédicas, a seleção genética responsável é essencial para reduzir a incidência dessas condições. Criadores éticos realizam exames radiográficos e testes genéticos em reprodutores para minimizar a transmissão de genes que predispõem a essas patologias.
Programas de melhoramento genético focados na exclusão de animais afetados da reprodução vêm demonstrando sucesso na redução de problemas como displasia coxofemoral e luxação de patela.
A compreensão da base genética das doenças ortopédicas tem avançado com o desenvolvimento da biotecnologia e da genômica. Estudos utilizando sequenciamento genético têm identificado marcadores associados a diversas condições, possibilitando estratégias mais eficazes para o manejo e prevenção.
Entretanto, a genética sozinha não determina o desenvolvimento dessas doenças, e fatores ambientais como dieta equilibrada, controle de peso e exercícios adequados desempenham um papel essencial na manutenção da saúde ortopédica dos animais.
A interação entre genética e ambiente na predisposição a problemas ortopédicos continua sendo um campo de estudo em evolução, e a conscientização sobre o tema permite uma abordagem mais proativa para garantir uma melhor qualidade de vida aos animais.
Referências bibliográficas
Smith, G. K., & Powers, M. Y. (2012). Canine hip dysplasia: Pathogenesis and risk factors. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 42(4), 785-793.
Worth, A. J., & Bridges, J. P. (2019). Genetic influences in canine cruciate ligament disease. Veterinary Journal, 250, 41-49.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.