Tudo sobre Erliquiose canina
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
- 2 min de leitura
A erliquiose canina, também chamada de doença do carrapato, é uma enfermidade infecciosa causada principalmente pela bactéria Ehrlichia canis, transmitida pela picada do carrapato marrom (Rhipicephalus sanguineus).

Trata-se de uma doença sistêmica de grande importância na clínica de pequenos animais, bastante prevalente no Brasil devido à alta infestação por carrapatos em áreas urbanas e rurais.
Após a inoculação, a bactéria invade células do sistema imunológico, especialmente monócitos, multiplicando-se em seu interior.
A doença pode evoluir em três fases distintas. A fase aguda, que surge entre uma e três semanas após a infecção, costuma manifestar-se com febre, apatia, inapetência, aumento de linfonodos e baço, além de sangramentos discretos, como petéquias ou epistaxe, decorrentes da queda no número de plaquetas.
Muitos cães, se não tratados, entram na fase subclínica, que pode durar meses ou anos, caracterizada pela ausência de sinais aparentes, mas com alterações hematológicas persistentes, como trombocitopenia.
Alguns animais conseguem controlar a infecção nesse estágio, mas outros evoluem para a fase crônica, a mais grave, marcada por anemia intensa, pancitopenia, emagrecimento, hemorragias, imunossupressão e risco elevado de óbito.
O diagnóstico da erliquiose depende da combinação entre os sinais clínicos, o histórico de infestação por carrapatos e exames complementares.
O hemograma é fundamental, geralmente mostrando trombocitopenia e, em casos mais avançados, anemia e leucopenia. Testes rápidos sorológicos (como ELISA) detectam anticorpos contra a Ehrlichia canis, sendo bastante utilizados na rotina.
Já o PCR é considerado o exame mais sensível e específico, capaz de confirmar a infecção ativa. Em alguns casos, a visualização de mórulas da bactéria no citoplasma de leucócitos em esfregaços sanguíneos pode auxiliar, mas nem sempre está presente.
O tratamento de escolha é a doxiciclina (10 mg/kg, uma vez ao dia, durante no mínimo 28 dias), que costuma ser eficaz nas fases aguda e subclínica.
Nos casos crônicos, em que há comprometimento grave da medula óssea, pode ser necessário suporte adicional, como transfusões sanguíneas, fluidoterapia e cuidados intensivos.
O prognóstico depende diretamente da fase em que a doença é diagnosticada: cães tratados precocemente tendem a se recuperar bem, enquanto os que chegam em fase crônica apresentam prognóstico mais reservado.
A prevenção da erliquiose canina é baseada no controle rigoroso do carrapato, já que não existe vacina eficaz contra a doença. O uso contínuo de coleiras, pipetas, comprimidos e sprays ectoparasiticidas, aliado à higienização e dedetização ambiental, é essencial para reduzir a infestação e proteger os cães.
Portanto, a erliquiose canina é uma enfermidade séria e multifásica, cujo sucesso no tratamento depende do diagnóstico precoce e da adesão às medidas de prevenção. A conscientização dos tutores sobre a importância do controle de carrapatos é uma das principais estratégias para reduzir a incidência e a gravidade da doença.
Referências bibliográficas
Harrus, S., & Waner, T. (2011). Diagnosis of canine monocytic ehrlichiosis revisited. Veterinary Parasitology, 179(1–3), 45–52.
Neer, T. M., Breitschwerdt, E. B., Greene, R. T., & Lappin, M. R. (2002). Consensus statement on ehrlichial disease of small animals from the Infectious Disease Study Group of the ACVIM. Journal of Veterinary Internal Medicine, 16(3), 309–315.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.