TT, TP e TTPA em cães
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
- 2 min de leitura
Os testes de coagulação TT (Tempo de Trombina), TP (Tempo de Protrombina) e TTPA (Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada) são exames fundamentais para a avaliação do sistema hemostático em cães.

Cada um deles analisa etapas distintas da cascata de coagulação e, quando interpretados em conjunto, permitem identificar de forma mais precisa a origem de um distúrbio hemorrágico ou trombótico.
O Tempo de Trombina (TT) avalia a etapa final da coagulação, medindo o tempo necessário para que o fibrinogênio plasmático seja convertido em fibrina após a adição de trombina exógena.
É um exame bastante específico para alterações quantitativas ou qualitativas do fibrinogênio. Em cães, o TT prolongado é observado em situações de hipofibrinogenemia ou disfibrinogenemia, assim como na presença de substâncias que interferem na polimerização da fibrina, como os produtos de degradação da fibrina ou a heparina.
Também pode se alterar em casos de coagulação intravascular disseminada (CIVD), refletindo o consumo do fibrinogênio.
O Tempo de Protrombina (TP) analisa a via extrínseca e a via comum da coagulação, medindo a atividade dos fatores II, V, VII e X, além do fibrinogênio.
Em cães, seu prolongamento é um achado clássico em quadros de intoxicação por rodenticidas anticoagulantes (cumarínicos), uma vez que esses venenos bloqueiam a reciclagem da vitamina K, necessária para a síntese hepática de vários fatores de coagulação.
O TP também pode estar aumentado em hepatopatias graves, já que o fígado é o principal local de produção dos fatores, e em estágios de CIVD, quando ocorre consumo excessivo dos fatores. Por ser influenciado precocemente pela queda do fator VII, que tem meia-vida curta, o TP é muitas vezes o primeiro exame a se alterar em deficiência de vitamina K.
Já o Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA ou aPTT) avalia a via intrínseca e a via comum, abrangendo fatores VIII, IX, XI e XII, além dos fatores II, V, X e fibrinogênio. O prolongamento do TTPA em cães pode indicar doenças hereditárias, como hemofilia A (deficiência de fator VIII) e hemofilia B (deficiência de fator IX), ou deficiências adquiridas decorrentes de intoxicações por anticoagulantes, doenças hepáticas graves e CIVD.
Quando analisados juntos, TT, TP e TTPA permitem uma abordagem lógica para o diagnóstico das coagulopatias: se apenas o TP estiver alterado, a lesão é restrita à via extrínseca; se apenas o TTPA for prolongado, a alteração está na via intrínseca; se ambos estiverem prolongados, a via comum está comprometida; e se o TT também estiver aumentado, há indicação de problema na fase final da coagulação ou no fibrinogênio.
Essa interpretação combinada é essencial para direcionar corretamente o raciocínio clínico e a conduta terapêutica em cães com distúrbios hemorrágicos.
Referências bibliográficas
Brooks, M. B. (2010). Disorders of hemostasis. In: Ettinger, S. J., Feldman, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine. 7th ed. Elsevier.
Stockham, S. L., & Scott, M. A. (2008). Fundamentals of Veterinary Clinical Pathology. 2nd ed. Blackwell Publishing.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.