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Toxina botulínica no controle de contraturas musculares em cães

O uso da toxina botulínica no controle de contraturas musculares em cães tem se mostrado uma ferramenta terapêutica promissora dentro da medicina veterinária, especialmente em pacientes ortopédicos e neurológicos que apresentam aumento do tônus muscular, espasticidade ou contraturas secundárias à dor crônica e imobilização prolongada.


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A toxina botulínica do tipo A (BoNT-A), produzida pela Clostridium botulinum, atua bloqueando a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, resultando em relaxamento temporário e controlado do músculo afetado.


Esse efeito permite não apenas a redução da dor associada à contração persistente, mas também a restauração parcial da amplitude de movimento e a facilitação da fisioterapia e reabilitação funcional.


Em cães, as contraturas musculares podem ocorrer após traumas, cirurgias ortopédicas (como TPLO, colocefalectomia ou correções de luxação patelar), imobilizações prolongadas, ou como consequência de doenças neurológicas como meningoencefalite, mielopatia degenerativa e sequelas de hérnia de disco.


A fisiopatologia envolve a fibrose muscular progressiva, com substituição de fibras contráteis por tecido conjuntivo e perda da elasticidade. Nesse contexto, a aplicação local de toxina botulínica tem a função de interromper o ciclo vicioso entre dor, espasmo e restrição de movimento.


O relaxamento temporário do músculo tratado cria uma “janela terapêutica” para reabilitação, durante a qual o animal pode readquirir amplitude articular e corrigir padrões compensatórios.


A dose e a técnica de aplicação variam conforme o músculo e o porte do animal. Estudos experimentais sugerem doses médias de 1 a 5 U/kg distribuídas entre os músculos acometidos, utilizando-se seringa de insulina e orientação anatômica precisa ou guiada por ultrassonografia ou eletromiografia.


O efeito clínico costuma iniciar entre 3 e 7 dias após a aplicação, atingindo pico entre 2 e 4 semanas, com duração média de 2 a 4 meses.


Após esse período, a função neuromuscular tende a se restabelecer gradualmente, e novas aplicações podem ser indicadas conforme a evolução do quadro e a resposta ao tratamento fisioterápico.


Os principais músculos tratados incluem o quadríceps femoral, bíceps femoral, gastrocnêmio e músculos cervicais ou toracolombares em casos de contraturas pós-lesão medular.


Em situações de contraturas de quadril ou joelho, especialmente após cirurgias ortopédicas, a toxina botulínica pode ser usada como adjuvante para reduzir a tração anormal sobre a articulação e aliviar o desconforto articular.


Em contrapartida, seu uso deve ser criterioso, evitando-se aplicar em músculos responsáveis pela estabilidade articular ou em casos de fraqueza difusa, para não comprometer a locomoção.


Reações adversas são raras e geralmente relacionadas à aplicação excessiva ou difusão inadvertida da toxina para músculos adjacentes, podendo gerar paresia transitória.


Do ponto de vista clínico, o uso da toxina botulínica em cães não substitui a fisioterapia, mas potencializa seus resultados. Ela é especialmente útil quando há resistência ao alongamento, espasmo doloroso ou dificuldade em iniciar o movimento ativo.


Além disso, estudos demonstram melhora significativa na qualidade de vida e na funcionalidade dos membros quando associada a terapias multimodais que envolvem analgesia, laserterapia e cinesioterapia.


Embora ainda não seja um tratamento de primeira linha em protocolos veterinários, a toxina botulínica representa uma alternativa segura e eficaz para casos refratários ou em que o relaxamento muscular farmacológico sistêmico não é bem tolerado.


Referências bibliográficas:

  1. Gracies, J. M. (2001). "Pathophysiology of spastic paresis. I: Paresis and soft tissue changes." Muscle & Nerve, 24(9), 1303–1313.

  2. Ma, J., Elsaidi, G. A., Smith, T. L., Walker, F. O., Tan, K. H., Martin, E., & Koman, L. A. (2004). "Time course of recovery of juvenile and adult rat soleus muscle after botulinum toxin A injection: A study of muscle contractile properties, morphology, and electrophysiology." American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, 83(10), 774–782.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


Horário: Segunda à sexta, 09h às 18h. Sábados 10:00 às 14:00
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