Tendinopatias em cães atletas
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
- 3 min de leitura
As tendinopatias em cães atletas (como cães de agility, corrida, busca e resgate, ou esportes de tração) têm ganhado cada vez mais atenção, já que esses animais são submetidos a esforços repetitivos e de alta intensidade, semelhantes aos de atletas humanos.

Os tendões, por terem vascularização relativamente pobre e função de transmitir forças musculares a ossos sob cargas elevadas, estão particularmente sujeitos a microlesões cumulativas que, quando não reconhecidas a tempo, evoluem para dor crônica e perda de desempenho.
Diagnóstico
O diagnóstico começa por uma anamnese detalhada, identificando o histórico esportivo, mudanças recentes de intensidade de treino, terreno ou técnica. Tutores frequentemente relatam claudicação intermitente após esforço, recusa em realizar determinados movimentos (como saltar ou correr em curva) e queda de performance.
No exame físico, a palpação cuidadosa do tendão afetado pode revelar dor localizada, espessamento, irregularidade ou crepitação. Testes de alongamento passivo e contração resistida auxiliam a reproduzir a dor.
Entre os tendões mais acometidos estão o tendão do bíceps braquial, os flexores e extensores do carpo, o tendão de Aquiles (calcâneo comum) e os músculos do quadril e coxa em cães de explosão.
A imagem diagnóstica é fundamental. A ultrassonografia musculoesquelética é o método mais acessível, permitindo visualizar descontinuidade de fibras, áreas hipoecogênicas (degeneração) ou neovascularização.
A ressonância magnética oferece maior detalhamento em casos complexos, revelando alterações precoces e extensas do tendão e tecidos adjacentes. Radiografias simples podem descartar avulsões ou calcificações crônicas.
Reabilitação
O tratamento de tendinopatias é baseado em descanso relativo (redução ou suspensão de atividades de alto impacto), controle da dor e estímulo à cicatrização adequada do tendão, evitando tanto a fibrose excessiva quanto a recidiva.
Fase inicial (inflamatória/aguda): aplicação de crioterapia, uso de anti-inflamatórios quando necessário, bandagens funcionais e restrição de movimentos bruscos.
Fase de reparo: introdução gradual de exercícios passivos e ativos controlados, como alongamentos suaves, caminhadas em superfície plana e hidroterapia. A água reduz impacto e permite movimentos articulares completos.
Fase de remodelação: exercícios de fortalecimento progressivo (subidas, superfícies instáveis, cavaletes baixos), associados a protocolos de propriocepção. Aqui, o tendão readquire alinhamento adequado de fibras sob cargas funcionais.
Terapias adjuvantes: laserterapia de alta intensidade, ultrassom terapêutico, ondas de choque extracorpóreas e eletroestimulação são recursos utilizados para modular inflamação, estimular angiogênese e acelerar remodelação. Em casos crônicos ou refratários, pode-se considerar uso de PRP (plasma rico em plaquetas) ou células-tronco mesenquimais, embora ainda haja variabilidade de resultados em veterinária.
A reintrodução ao esporte deve ser gradual, respeitando a evolução clínica e sempre com reeducação de carga de treino. A pressa em retornar pode levar à recidiva ou cronificação da lesão.
Prognóstico
O prognóstico depende da gravidade da tendinopatia, da adesão ao protocolo de reabilitação e da capacidade de ajustar o treino esportivo do animal.
Lesões diagnosticadas precocemente e tratadas de forma multimodal apresentam boas chances de recuperação funcional completa. Lesões crônicas, por sua vez, podem deixar sequelas de fibrose e reduzir o desempenho atlético do cão, mesmo com tratamento adequado.
Referências bibliográficas
Zink MC, Van Dyke JB. Canine Sports Medicine and Rehabilitation. 2nd ed. Wiley Blackwell; 2018.
Cook JL, Smith PA. Clinical update on canine tendinopathies. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 2015;45(2):321-332.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.