Taurina em cães e gatos
- Felipe Garofallo

- 16 de ago.
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Atualizado: 12 de set.
A taurina é um aminoácido sulfurado que, ao contrário da maioria dos aminoácidos, não é incorporado na síntese de proteínas, mas exerce funções fisiológicas diretas e essenciais. Ela está presente em altas concentrações nos tecidos mais metabolicamente ativos, como retina, miocárdio, músculo esquelético e sistema nervoso central.

Apesar de ser sintetizada endogenamente a partir de aminoácidos como metionina e cisteína, a capacidade de produção varia bastante entre espécies, sendo particularmente limitada nos gatos, o que torna a taurina um nutriente essencial para eles.
Nos cães, a taurina não é considerada essencial em condições normais, pois a síntese endógena costuma suprir as necessidades. No entanto, fatores como predisposição genética, dietas com baixo teor de precursores sulfurados, uso prolongado de dietas vegetarianas/veganas ou à base de certas leguminosas, e doenças que aumentam a demanda metabólica podem levar a deficiência.
Algumas raças, como Cocker Spaniel Americano, Golden Retriever e Newfoundland, parecem ter maior susceptibilidade a desenvolver cardiomiopatia dilatada associada à deficiência de taurina.
Nos gatos, a taurina é absolutamente essencial na dieta. Eles apresentam atividade reduzida da enzima cisteína dioxigenase e maior degradação de taurina ligada aos ácidos biliares, o que impede a síntese em quantidade suficiente.
A deficiência em felinos pode levar a retinopatia degenerativa irreversível, cardiomiopatia dilatada, problemas reprodutivos, atraso no crescimento e alterações imunológicas. Por isso, todas as rações comerciais completas para gatos contêm suplementação adequada de taurina.
Do ponto de vista funcional, a taurina atua como osmorregulador celular, participa da conjugação de ácidos biliares (importante para digestão e absorção de gorduras), tem propriedades antioxidantes e modula o fluxo de cálcio no interior das células, o que é crucial para a função cardíaca e muscular. No sistema nervoso, exerce papel neuroprotetor, enquanto nos olhos contribui para a integridade fotoreceptora.
A suplementação de taurina, tanto em cães quanto em gatos, é segura e geralmente bem tolerada. Em cães, ela é indicada principalmente em casos de cardiomiopatia dilatada associada à deficiência, em protocolos de suporte cardíaco, ou em dietas com risco de aporte insuficiente. Em gatos, pode ser usada de forma preventiva em dietas caseiras ou terapêuticas que não sejam formuladas por nutricionistas veterinários, além de ser terapêutica em casos de deficiência confirmada.
Doses terapêuticas variam de acordo com a espécie, peso e condição clínica, mas o acompanhamento veterinário é essencial, não só para definir a posologia, como também para investigar a causa subjacente da deficiência.
Referências bibliográficas
Pion PD, Kittleson MD, Rogers QR, Morris JG. Myocardial failure in cats associated with low plasma taurine: a reversible cardiomyopathy. Science. 1987;237(4816):764-768.
Ontiveros ES, et al. Development of plasma and whole blood taurine reference ranges and identification of dietary features associated with taurine deficiency and dilated cardiomyopathy in dogs. J Anim Sci. 2020;98(6):skaa155.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.