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Síndrome da cauda equina em cães grandes

Atualizado: 12 de set.

A síndrome da cauda equina em cães grandes é uma condição neurológica progressiva que pode comprometer seriamente a qualidade de vida do animal.

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Também chamada de estenose lombossacra degenerativa, essa síndrome ocorre quando há compressão das raízes nervosas que formam a cauda equina, estrutura composta pelos nervos que saem da medula espinhal ao final da coluna vertebral.


Essa compressão geralmente ocorre na transição entre a sexta vértebra lombar (L6) e a primeira vértebra sacral (S1), região que está sujeita a sobrecargas mecânicas especialmente em cães de grande porte.


A causa mais comum da síndrome é a degeneração progressiva dos discos intervertebrais, somada à formação de osteófitos (também chamados de bicos de papagaio), hipertrofia de ligamentos e, em alguns casos, instabilidade articular. Com o tempo, essas alterações provocam um estreitamento do canal vertebral e dos forames intervertebrais por onde passam os nervos, resultando na compressão da cauda equina.


Raças como o Pastor Alemão, Labrador Retriever, Golden Retriever, Rottweiler e outras de grande porte apresentam maior predisposição à doença, sobretudo a partir da meia-idade. A obesidade, o envelhecimento natural da coluna e atividades físicas de impacto também contribuem para a progressão do quadro.


Os sinais clínicos nem sempre aparecem de forma abrupta. Em muitos casos, os tutores relatam que o cão começou a evitar subir escadas, hesita em pular no sofá, apresenta fraqueza nos membros traseiros ou passa a caminhar com dificuldade. Um sinal muito comum é a dor lombar, que pode ser percebida como desconforto ao toque na região ou como mudanças comportamentais sutis, como irritabilidade e apatia.


Alguns cães lambem compulsivamente a base da cauda ou apresentam atrofia muscular progressiva nas pernas traseiras. Em casos mais avançados, podem surgir incontinência urinária, perda de controle fecal e paralisia parcial dos membros posteriores.


O diagnóstico exige uma avaliação neurológica cuidadosa, já que os sinais podem ser semelhantes a outras doenças ortopédicas como displasia coxofemoral ou ruptura de ligamento cruzado. Exames de imagem são fundamentais: a radiografia simples pode sugerir alterações ósseas degenerativas, mas não mostra detalhes das estruturas nervosas.


Por isso, os exames mais indicados são a tomografia computadorizada e, principalmente, a ressonância magnética, que permite uma visualização clara das raízes nervosas comprimidas, do disco intervertebral e do grau de inflamação local. O teste de dor à extensão da articulação lombossacra também é uma ferramenta clínica importante para reforçar a suspeita.


O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo da gravidade do caso e da resposta do paciente ao manejo inicial.


Em cães que apresentam apenas dor e claudicação leve, é possível controlar os sintomas com uso de anti-inflamatórios, analgésicos, repouso físico, perda de peso e sessões regulares de fisioterapia.

A hidroterapia, o uso de laser e a eletroestimulação são bastante úteis para manter a função neuromuscular e aliviar a dor. No entanto, nos casos em que há falha no tratamento clínico, ou quando o cão apresenta sinais neurológicos graves como incontinência ou paralisia, a intervenção cirúrgica se torna necessária.


A cirurgia mais comum nesses casos é a laminectomia dorsal lombossacra, que visa remover as estruturas que comprimem os nervos e, em alguns casos, estabilizar a articulação por meio de técnicas de fusão vertebral.


Quando realizada por um cirurgião experiente, essa abordagem tem alta taxa de sucesso, principalmente se o cão ainda mantém controle esfincteriano e força nos membros posteriores no momento da cirurgia. O prognóstico é mais reservado nos casos em que a perda neurológica já é severa e prolongada.


A recuperação pós-operatória exige acompanhamento multidisciplinar, com fisioterapia contínua e ajustes no ambiente doméstico para evitar recaídas ou novas lesões. O tutor deve manter visitas regulares ao veterinário, observar qualquer mudança no comportamento locomotor do cão e seguir rigorosamente as orientações de reabilitação e medicação.


A síndrome da cauda equina é uma condição séria, mas que pode ser tratada com sucesso quando identificada precocemente e conduzida com uma abordagem personalizada. A atenção do tutor aos primeiros sinais e a busca por avaliação veterinária especializada são determinantes para o bem-estar do animal a longo prazo.


Referências bibliográficas:


Dewey, C. W., & da Costa, R. C. (2015). Practical Guide to Canine and Feline Neurology (3rd ed.). Wiley-Blackwell.Jeffery, N. D., Barker, A. K., & Harcourt-Brown, T. R. (2014).


What is the evidence for decompressive surgery in dogs with degenerative lumbosacral stenosis? Veterinary Surgery, 43(4), 395–403.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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