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Sinais sutis de dor ortopédica em cães: quando o tutor nem percebe

A dor ortopédica em cães é muito mais comum do que se imagina, mas frequentemente passa despercebida pelos tutores. Isso acontece porque os cães, por instinto, tendem a mascarar sinais de dor, especialmente os mais sutis.


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Em um ambiente natural, demonstrar fraqueza poderia colocá-los em risco, e esse comportamento ancestral permanece presente mesmo nos animais de estimação.


Por isso, compreender os sinais discretos de dor articular e musculoesquelética é essencial para garantir um diagnóstico precoce e evitar o agravamento de doenças ortopédicas.


A dor ortopédica pode surgir de diversas causas, como displasia coxofemoral, ruptura do ligamento cruzado cranial, luxação de patela, artrose, fraturas, traumas musculares e doenças da coluna.


Em muitos casos, o cão não chega a mancar de forma evidente, mas manifesta pequenas mudanças de comportamento e postura. Tutores atentos percebem que o animal já não sobe mais no sofá como antes, evita escadas, passa a deitar em locais diferentes ou demora para se levantar após o repouso.


Outro sinal comum é a alteração na expressão facial: o cão parece mais “cansado”, com orelhas baixas e olhar menos vívido.


Alterações na locomoção também podem ser sutis. Em vez de uma claudicação visível, o cão pode dar passos mais curtos, mudar o ritmo das caminhadas ou transferir discretamente o peso do corpo para evitar dor em uma articulação.


Quando a origem é na coluna, é comum observar rigidez ao se virar, relutância em brincar ou até vocalizações leves ao ser tocado. Alguns cães lambem excessivamente uma região específica do corpo — geralmente a articulação dolorida —, comportamento que muitos tutores confundem com alergia ou mania.


Outro indicativo importante é a mudança de temperamento. Um cão dócil pode se tornar mais reservado, irritadiço ou até rosnar quando alguém tenta pegá-lo no colo. Isso não é um problema comportamental, mas um reflexo da dor crônica.


A diminuição do apetite e do interesse em atividades que antes eram prazerosas também são pistas valiosas. Tutores frequentemente descrevem que o cão “envelheceu de repente”, quando na verdade o que ocorreu foi o surgimento de uma condição ortopédica dolorosa.


O desafio é que, em quadros crônicos, o organismo do cão se adapta à dor. Ele ajusta o modo de andar, deitar e até de apoiar as patas para reduzir o desconforto. Esse processo de compensação, com o tempo, causa sobrecarga em outras articulações e músculos, ampliando o quadro de dor e acelerando a degeneração articular.


Por isso, o diagnóstico precoce é determinante para interromper esse ciclo. O exame ortopédico detalhado, associado a radiografias e, quando necessário, tomografia ou ressonância magnética, é fundamental para identificar a origem da dor e definir o tratamento mais adequado.


O tratamento depende da causa, mas geralmente envolve controle do peso corporal, fisioterapia, uso de condroprotetores, anti-inflamatórios, e, em alguns casos, cirurgia corretiva.


O objetivo principal é restaurar a função articular e reduzir a dor, permitindo que o cão volte a se movimentar naturalmente. Em paralelo, o acompanhamento periódico com um ortopedista veterinário é essencial para ajustar a terapêutica e prevenir recaídas.

Ignorar sinais sutis de dor ortopédica pode fazer com que uma condição simples evolua para um problema crônico, com perda de qualidade de vida.


O tutor tem papel essencial nesse processo, pois é ele quem observa o comportamento diário do animal. Detectar essas pequenas mudanças e buscar avaliação especializada precocemente pode significar anos a mais de bem-estar e mobilidade para o cão.

Referências bibliográficas:

Johnston, S. A., & Tobias, K. M. (2018). Veterinary Surgery: Small Animal (2nd ed.). Elsevier.

Monteiro-Steagall, B. P., Steagall, P. V. M., & Lascelles, B. D. X. (2013). Systematic review of nonsteroidal anti-inflammatory drug-induced adverse effects in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, 27(5), 1011–1019.

Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



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