Sarcopenia em cães
- Felipe Garofallo
- 12 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A sarcopenia em cães é uma condição caracterizada pela perda progressiva de massa muscular, força e função, geralmente associada ao envelhecimento, mas que também pode ocorrer em outras circunstâncias clínicas.
Esse processo não se resume apenas à redução visível do volume muscular, mas envolve alterações bioquímicas, hormonais e metabólicas que afetam diretamente a qualidade de vida do animal, tornando-o mais propenso a quedas, lesões ortopédicas, dificuldades de locomoção e pior resposta a doenças. Nos cães idosos, a sarcopenia muitas vezes se instala de forma silenciosa.
Com o passar dos anos, a produção de hormônios anabólicos como o hormônio do crescimento e a testosterona diminui, e há um aumento dos processos inflamatórios sistêmicos de baixo grau — um fenômeno chamado de “inflammaging” — que interfere na síntese proteica e favorece a degradação muscular. Além disso, alterações no apetite, doenças crônicas, dor osteoarticular e o sedentarismo são fatores que potencializam a perda de massa muscular.
Cães acometidos por doenças neurológicas ou ortopédicas — como hérnias de disco, displasia coxofemoral, ruptura de ligamento cruzado cranial ou artrose — estão particularmente suscetíveis ao desenvolvimento de sarcopenia secundária à imobilidade e ao desuso dos membros.
Nesses casos, mesmo cães jovens podem apresentar perda muscular significativa quando a reabilitação física não é introduzida precocemente. A sarcopenia também pode ter relação com a nutrição inadequada.
Dietas com baixa densidade proteica ou má digestibilidade dificultam a reposição dos aminoácidos essenciais necessários à manutenção da musculatura.
Em casos mais graves, observa-se também a chamada sarcopenia cachexêmica, quando há uma combinação entre perda muscular e perda de peso global, muitas vezes associada a doenças como neoplasias, insuficiência cardíaca ou doença renal crônica.
O diagnóstico da sarcopenia em cães envolve avaliação clínica detalhada, mensuração da massa muscular (por palpação, bioimpedância ou imagens como ultrassonografia e tomografia), além da exclusão de outras causas de emagrecimento. A avaliação funcional, por sua vez, considera a capacidade de locomoção, resistência ao exercício e a presença de dor ao movimento.
O tratamento da sarcopenia canina envolve uma abordagem multidisciplinar. A base da intervenção é o estímulo físico controlado, preferencialmente orientado por um fisioterapeuta veterinário, com exercícios que promovam hipertrofia muscular e melhorem a função articular.
A suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada, como a leucina, e o uso de dietas formuladas para cães geriátricos com maior teor de proteína de alta digestibilidade são estratégias importantes. Em alguns casos, considera-se o uso de moduladores hormonais ou fármacos que estimulem o anabolismo, sempre sob rigoroso acompanhamento médico-veterinário.
A prevenção da sarcopenia começa com a manutenção de uma rotina ativa e bem alimentada ao longo da vida do cão, respeitando os limites de cada faixa etária e condição de saúde. Cuidar da saúde muscular do paciente é tão essencial quanto cuidar das articulações e ossos — especialmente em uma população de cães que vive cada vez mais tempo.
Referências bibliográficas:
Laflamme, D. P. (2012). Understanding and managing obesity in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 42(4), 725–743.
Freeman, L. M., & Michel, K. E. (2021). Evaluation of weight loss protocols for dogs and cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, 258(2), 139–144.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.