Riscos do uso de Dorflex para cães
- Felipe Garofallo
- 20 de set.
- 3 min de leitura
O uso de medicamentos humanos em cães é uma prática comum entre tutores que, na tentativa de aliviar a dor do animal, recorrem ao que têm em casa. Entre os mais lembrados está o Dorflex, um analgésico bastante utilizado por pessoas.

No entanto, o que muitos não sabem é que esse medicamento não deve ser administrado em cães, pois a sua formulação contém substâncias potencialmente tóxicas para eles.
O Dorflex é composto por três ingredientes: dipirona sódica, orfenadrina e cafeína.
A dipirona é uma medicação que pode ser usada em cães, desde que em apresentações veterinárias ou sob prescrição do médico-veterinário, pois a dose precisa ser ajustada de acordo com o peso, a idade e a condição clínica do animal.
Porém, a orfenadrina, que é um relaxante muscular, e a cafeína, que é um estimulante do sistema nervoso, representam riscos sérios quando administrados em cães.
A orfenadrina pode causar uma série de efeitos colaterais indesejados, incluindo agitação, tremores, taquicardia e até convulsões.
Em doses elevadas, pode levar a um quadro de intoxicação grave, que coloca em risco a vida do animal.
A cafeína, por sua vez, é uma substância bem conhecida por ser tóxica para cães e gatos, mesmo em pequenas quantidades. Os sinais de intoxicação por cafeína incluem inquietação, aceleração dos batimentos cardíacos, hipertensão, vômitos, tremores musculares e, em casos severos, convulsões e morte. Assim, o fato de o Dorflex conter essas duas substâncias associadas torna o seu uso totalmente contraindicado em cães.
É preciso destacar que, muitas vezes, o tutor não percebe a gravidade de medicar por conta própria e acaba atrasando o diagnóstico da verdadeira causa da dor. A dor em cães nunca deve ser ignorada, pois ela pode estar relacionada a diversas condições, como problemas ortopédicos, doenças neurológicas, inflamações ou até enfermidades sistêmicas.
Tratar apenas o sintoma, sem descobrir o que está provocando o desconforto, pode mascarar sinais importantes e dificultar a atuação do veterinário. Além disso, oferecer um medicamento inadequado não apenas não resolve a dor como também pode gerar complicações sérias, tornando a situação ainda mais difícil de manejar.
Quando um cão apresenta sinais de dor, como gemidos, dificuldade de locomoção, falta de apetite, alteração de comportamento ou relutância em se movimentar, a conduta correta é levá-lo a uma consulta veterinária.
Somente um profissional poderá realizar a avaliação clínica, solicitar exames, identificar a origem da dor e prescrever o tratamento adequado. Hoje existem diversas opções seguras e eficazes para o controle da dor em cães, que vão desde anti-inflamatórios próprios para a espécie até analgésicos específicos, terapias complementares e, em alguns casos, cirurgias corretivas.
Portanto, oferecer Dorflex para cães não é seguro e pode colocar em risco a saúde do animal. Apesar de conter dipirona em sua composição, que isoladamente pode ser utilizada em medicina veterinária, a presença da orfenadrina e da cafeína torna a medicação imprópria para o uso em pets.
A recomendação é clara: nunca administre medicamentos humanos em seu cachorro sem a orientação de um médico-veterinário.
O tratamento correto da dor deve sempre considerar a causa do problema, o estado clínico do paciente e a escolha de fármacos seguros para a espécie.
A automedicação pode custar caro não apenas em termos de saúde, mas também de qualidade de vida do animal, que depende do cuidado responsável do tutor para se manter saudável e livre de sofrimento.
Referências bibliográficas
Brunetto, M. A., et al. (2016). Uso racional de medicamentos em cães e gatos. Clínica Veterinária, 21(124), 46–56.
Papich, M. G. (2016). Saunders Handbook of Veterinary Drugs. 4th ed. Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.