Relação entre hipotireoidismo e doenças ortopédicas em cães
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
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O hipotireoidismo em cães é uma endocrinopatia relativamente comum que afeta múltiplos sistemas do organismo, incluindo o sistema musculoesquelético.

Embora as manifestações clássicas sejam metabólicas e dermatológicas, alterações ortopédicas também podem ser observadas, muitas vezes confundindo o diagnóstico diferencial com doenças primárias ortopédicas ou neurológicas.
A deficiência dos hormônios tireoidianos compromete diretamente o metabolismo celular, reduz a síntese proteica e altera o turnover da matriz extracelular. No tecido musculoesquelético, isso se traduz em miopatia hipotireoidiana, caracterizada por fraqueza muscular difusa, intolerância ao exercício, atrofia discreta e, em alguns casos, aumento de enzimas musculares séricas (CK e AST).
Clinicamente, os cães podem apresentar dificuldade para se levantar, marcha rígida, intolerância a caminhadas longas e até claudicação intermitente.
Do ponto de vista articular, há relatos de polineuropatia hipotireoidiana que, embora de base neurológica, repercute diretamente na biomecânica e no suporte ortopédico.
Essa condição pode provocar paresia dos membros pélvicos ou torácicos, reflexos diminuídos e alteração da propriocepção, sendo confundida com disfunções de coluna, mielopatias ou até displasia coxofemoral em estágios iniciais. A instabilidade e a perda de força muscular resultantes agravam quadros ortopédicos preexistentes e predispõem a lesões secundárias.
Além disso, a lentidão do metabolismo ósseo e da remodelação pode estar relacionada a processos degenerativos articulares mais precoces.
Em cães hipotireóideos, há maior suscetibilidade ao desenvolvimento de osteoartrite, não apenas pela alteração metabólica, mas também pela redução da atividade física e pelo aumento de peso corporal, um fator secundário comum.
A obesidade decorrente do hipotireoidismo exerce sobrecarga mecânica contínua nas articulações, favorecendo degenerações em quadris, joelhos e cotovelos.
Outro ponto relevante é que a regeneração tecidual e óssea é mais lenta nesses pacientes, o que pode impactar negativamente na consolidação de fraturas ou no sucesso de procedimentos ortopédicos.
Em cães submetidos a cirurgias como correção de luxação patelar ou osteotomias, o controle adequado do hipotireoidismo é crucial para minimizar risco de atraso de cicatrização, complicações infecciosas e falhas de implante.
Portanto, diante de um cão com queixas ortopédicas associadas a sinais sistêmicos compatíveis com hipotireoidismo, o clínico deve considerar essa endocrinopatia como diagnóstico diferencial.
O tratamento com levotiroxina costuma reverter gradualmente as manifestações musculoesqueléticas, embora lesões degenerativas secundárias, como a osteoartrite, permaneçam como alterações crônicas.
Referências
Ettinger SJ, Feldman EC. Textbook of Veterinary Internal Medicine: Diseases of the Dog and Cat. 8th ed. Elsevier; 2017.
Nelson RW, Couto CG. Small Animal Internal Medicine. 6th ed. Elsevier; 2019.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.