Relação entre doenças endócrinas e degeneração articular em cães
- Felipe Garofallo

- 9 de out.
- 2 min de leitura
A relação entre doenças endócrinas e degeneração articular em cães é mais estreita do que se imaginava há alguns anos.

Condições hormonais como o hipotireoidismo, o hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing) e o diabetes mellitus exercem influência direta sobre o metabolismo dos tecidos articulares, musculares e ósseos, favorecendo processos degenerativos e inflamatórios que comprometem a mobilidade e a estabilidade das articulações.
O hipotireoidismo é uma das endocrinopatias mais comuns em cães de meia-idade e tem impacto significativo na estrutura musculoesquelética.
A deficiência de hormônios tireoidianos reduz o metabolismo celular e a síntese proteica, levando à diminuição da força muscular e à lentidão na reparação tecidual.
A fraqueza dos estabilizadores articulares predispõe a microinstabilidades crônicas, que ao longo do tempo provocam desgaste cartilaginoso e osteoartrite secundária.
Além disso, a hipoperfusão tecidual e a retenção de líquidos podem gerar edema e desconforto periarticular.
O hiperadrenocorticismo, caracterizado pelo excesso de cortisol circulante, provoca uma série de alterações catabólicas.
O aumento do catabolismo proteico leva à atrofia muscular, enquanto o desequilíbrio entre síntese e degradação de colágeno enfraquece tendões e ligamentos.
Esses efeitos combinados resultam em instabilidade articular, predispondo a rupturas ligamentares, especialmente no ligamento cruzado cranial.
Além disso, o excesso de cortisol interfere na remodelação óssea, promovendo osteopenia e retardando a consolidação de fraturas ou osteotomias.
No diabetes mellitus, a hiperglicemia persistente causa glicação de proteínas estruturais, alterando a composição do colágeno e tornando as articulações menos flexíveis.
Há também comprometimento microvascular, que reduz o aporte de nutrientes à cartilagem e retarda a cicatrização.
Cães diabéticos apresentam maior incidência de tendinopatias e rigidez articular, especialmente em membros pélvicos.
O processo inflamatório sistêmico crônico que acompanha o diabetes contribui para agravar a degradação articular.
Essas doenças endócrinas, portanto, não apenas favorecem a degeneração articular, mas também prejudicam a resposta terapêutica de pacientes já acometidos por displasias, artroses ou lesões ligamentares.
O tratamento efetivo exige uma abordagem integrada, em que o controle hormonal e metabólico é tão importante quanto a terapia ortopédica local.
Somente com o restabelecimento do equilíbrio endócrino é possível promover a regeneração tecidual e evitar recidivas.
Em resumo, o desequilíbrio hormonal altera o ambiente articular de forma profunda, fragilizando os tecidos de sustentação e acelerando o processo degenerativo.
A investigação de distúrbios endócrinos deve fazer parte da rotina diagnóstica em cães com dor articular inexplicável ou evolução clínica atípica, pois o manejo adequado dessas condições é determinante para o sucesso do tratamento ortopédico.
Referências bibliográficas:
1. Rijnberk, A., & Kooistra, H. S. (2010). Clinical Endocrinology of Dogs and Cats. Springer.
2. Johnston, S. A. (1997). Osteoarthritis: Joint anatomy, physiology, and pathobiology. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 27(4), 699–723.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.