Radiculite em cães
- Felipe Garofallo

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A radiculite em cães é uma condição neurológica caracterizada pela inflamação das raízes nervosas que emergem da medula espinhal. Essas raízes, chamadas de “radículas”, são responsáveis por transmitir informações sensoriais e motoras entre o sistema nervoso central e as diversas partes do corpo.

Quando há inflamação em uma ou mais dessas estruturas, o cão pode apresentar dor intensa, sensibilidade aumentada, claudicação, fraqueza muscular e, em casos mais graves, alterações na postura e perda de função motora.
A radiculite não é uma doença em si, mas um sintoma ou manifestação secundária a diferentes condições que causam irritação ou compressão das raízes nervosas.
Entre as causas mais comuns estão as hérnias de disco, os traumas na coluna vertebral, a presença de tumores comprimindo estruturas neurais, infecções por bactérias, fungos ou vírus, doenças autoimunes e até mesmo distúrbios inflamatórios idiopáticos.
Em muitos casos, a inflamação é causada pela liberação de citocinas inflamatórias em resposta à compressão mecânica ou lesão local, desencadeando um processo doloroso e incapacitante.
Os sinais clínicos variam de acordo com a raiz afetada e a intensidade do processo inflamatório. Cães com radiculite cervical, por exemplo, podem apresentar dor no pescoço, dificuldade para movimentar a cabeça e rigidez cervical.
Já nos casos que envolvem a região toracolombar ou lombossacra, os sinais mais comuns incluem dor nas costas, sensibilidade ao toque, dificuldade de locomoção, claudicação ou fraqueza nos membros posteriores.
Alguns cães desenvolvem postura encurvada, evitam subir escadas ou apresentam vocalizações de dor ao serem manipulados.
Em casos mais avançados, pode haver perda de propriocepção e paralisia parcial, especialmente se o processo inflamatório se estender para estruturas próximas, como a medula espinhal ou os nervos periféricos.
O diagnóstico da radiculite é baseado na combinação de exame neurológico detalhado e exames de imagem. A radiografia simples pode ser útil para identificar alterações estruturais grosseiras na coluna, como colapso de disco ou espondilose, mas não é suficiente para avaliar a inflamação das raízes nervosas.
A tomografia computadorizada, especialmente quando associada à mielografia, e a ressonância magnética são os exames mais indicados, pois permitem a visualização das raízes nervosas e das alterações associadas, como protrusões discais, tumores ou edema perineural. Além disso, exames laboratoriais podem ser solicitados para investigar causas infecciosas, autoimunes ou sistêmicas associadas.
O tratamento da radiculite em cães depende da causa subjacente. Em casos de hérnia de disco, por exemplo, pode ser necessário um tratamento cirúrgico para descompressão, enquanto infecções bacterianas exigem uso de antibióticos por tempo prolongado. De forma geral, o manejo clínico inclui o uso de anti-inflamatórios potentes, como corticoides, analgésicos multimodais e, em alguns casos, imunossupressores.
A fisioterapia é uma ferramenta fundamental para a recuperação funcional e o alívio da dor, utilizando técnicas como eletroestimulação, laserterapia e exercícios terapêuticos para preservar a musculatura e a mobilidade.
O prognóstico da radiculite varia conforme a gravidade do processo inflamatório e a rapidez com que o tratamento é instituído.
Casos leves, com resposta rápida à medicação e sem comprometimento motor significativo, tendem a evoluir bem.
Já situações mais graves, com paralisia ou inflamação persistente, podem demandar tratamento de longo prazo e acompanhamento contínuo. O manejo multidisciplinar, unindo o trabalho de clínicos, neurologistas veterinários e fisioterapeutas, é essencial para garantir uma boa recuperação.
A atenção precoce aos sinais neurológicos e o encaminhamento rápido para diagnóstico e tratamento especializado fazem toda a diferença na evolução do quadro.
A radiculite pode ser reversível quando tratada de forma adequada, evitando sequelas neurológicas permanentes e devolvendo ao animal sua qualidade de vida.
Referências bibliográficas:
Lorenz, M. D., Coates, J. R., & Kent, M. (2011). Handbook of Veterinary Neurology (5th ed.). Elsevier
Health Sciences.Cudia, S. P., & Drost, W. T. (1998). Myelography in small animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 28(1), 95–128.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.