O mancar em cães é um comportamento que, muitas vezes, pode ser percebido como algo passageiro ou sem importância pelos tutores. Contudo, essa mudança na marcha pode ser o primeiro sinal de um problema ortopédico grave que necessita de atenção veterinária imediata. A identificação precoce dessas condições é crucial para garantir a qualidade de vida do animal e prevenir o agravamento do quadro.
Cães, por sua natureza, são seres resilientes e tendem a mascarar a dor até que se torne insuportável. Por isso, o mancar, mesmo que leve, não deve ser ignorado. Diversos problemas ortopédicos podem estar por trás desse sintoma, como displasia coxofemoral, ruptura do ligamento cruzado cranial, luxação de patela e hérnias de disco. Cada uma dessas condições apresenta características próprias e necessita de abordagens terapêuticas específicas.
A displasia coxofemoral, por exemplo, é uma condição genética que afeta principalmente raças de grande porte. Ela ocorre quando há uma má-formação da articulação do quadril, o que provoca dor intensa e dificuldade de locomoção. O mancar pode ser intermitente no início, mas tende a se agravar com o tempo, especialmente após exercícios físicos. Sem o tratamento adequado, essa condição pode evoluir para a artrite, tornando o movimento do animal ainda mais doloroso e restrito.
A ruptura do ligamento cruzado cranial é outra condição grave que causa mancar. Esse ligamento é essencial para a estabilidade da articulação do joelho e, quando rompido, provoca dor intensa e perda de função na pata afetada. Os cães com essa condição costumam evitar apoiar o membro lesionado no chão, o que resulta em um mancar evidente. A intervenção cirúrgica é geralmente necessária para restaurar a funcionalidade do joelho e prevenir a degeneração articular.
Já a luxação de patela é um problema comum em raças pequenas, como Poodle e Chihuahua, e ocorre quando a patela se desloca de sua posição normal. Isso pode causar dor e dificuldade ao caminhar, levando o cão a mancar. Em casos leves, a patela pode retornar à posição normal por si só, mas em situações mais graves, a cirurgia pode ser necessária para evitar que o problema se repita.
As hérnias de disco, por sua vez, são mais comuns em raças como Dachshund e Shih Tzu, e podem causar sintomas neurológicos além do mancar. Quando o disco intervertebral se desloca, ele pode comprimir a medula espinhal, resultando em dor intensa, fraqueza e, em casos severos, paralisia. O tratamento pode variar desde repouso e medicação até cirurgia, dependendo da gravidade do caso.
É importante que os tutores estejam atentos a qualquer alteração na marcha de seus cães, especialmente se o mancar persistir por mais de 24 horas ou for acompanhado de outros sinais, como relutância em se levantar, dor ao ser tocado ou mudança de comportamento. A avaliação veterinária é essencial para diagnosticar a causa do mancar e iniciar o tratamento adequado.
Além disso, o diagnóstico precoce de problemas ortopédicos pode fazer toda a diferença no prognóstico do animal. Técnicas de imagem, como raios-X, são ferramentas valiosas que auxiliam na identificação da causa do problema e na escolha do melhor tratamento.
Em resumo, o mancar em cães é um sintoma que nunca deve ser subestimado. Pode ser o primeiro sinal de um problema ortopédico grave que, se não tratado adequadamente, pode comprometer significativamente a qualidade de vida do animal. Portanto, a observação cuidadosa e a busca por atendimento veterinário especializado são fundamentais para garantir a saúde e o bem-estar dos nossos companheiros caninos.
Referências bibliográficas
1. Brinker, W. O., Piermattei, D. L., & Flo, G. L. (1997). Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. Saunders.
2. Fossum, T. W. (2013). Small Animal Surgery. Elsevier.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial pelo whatsapp (11)91258-5102 ou uma consultoria on-line por vídeo.
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