Por que alguns cães rompem o ligamento das duas pernas?
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
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O rompimento do ligamento cruzado cranial em cães pode ocorrer em apenas um joelho, mas uma parte significativa dos pacientes acaba desenvolvendo a mesma lesão no joelho contralateral ao longo da vida.

Isso acontece porque, ao contrário dos humanos, na maioria dos cães o rompimento do ligamento não é apenas consequência de um trauma agudo, mas sim de um processo degenerativo progressivo.
O ligamento sofre enfraquecimento estrutural ao longo do tempo por alterações na sua matriz de colágeno, inflamação crônica de baixo grau e microrrupturas acumuladas, até que se rompe.
Quando um joelho rompe o ligamento, o outro frequentemente já apresenta o mesmo processo degenerativo, apenas em estágio menos avançado.
Estudos mostram que cerca de 40 a 60% dos cães que rompem o ligamento em um dos joelhos desenvolvem a ruptura também no contralateral em até dois anos. Fatores como conformação anatômica, ângulo do platô tibial, obesidade, sedentarismo e predisposição genética aumentam esse risco. Em raças como Labrador Retriever, Rottweiler e Boxer, essa ocorrência bilateral é ainda mais comum.
Outro aspecto importante é a sobrecarga biomecânica: após o rompimento em uma das pernas, o cão passa a apoiar mais peso no membro saudável, o que acelera o desgaste do ligamento do lado oposto. Esse mecanismo de compensação, somado à degeneração pré-existente, favorece a ruptura bilateral.
Além disso, doenças sistêmicas que afetam a integridade dos tecidos, como endocrinopatias (hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo), podem contribuir para a fragilidade ligamentar generalizada.
Portanto, alguns cães rompem o ligamento das duas pernas porque o problema não se restringe a um único joelho, mas sim a um conjunto de fatores degenerativos, genéticos e biomecânicos que afetam ambos os membros.
Isso reforça a importância de um acompanhamento ortopédico contínuo, do controle de peso e, muitas vezes, da preparação do tutor para a possibilidade de futuras cirurgias no membro contralateral.
Referências bibliográficas
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2016). Brinker, Piermattei, and Flo's Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th ed. Elsevier.
Muir, P. (2018). Advances in the Canine Cranial Cruciate Ligament. Wiley Blackwell.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.