Pleocitose em cães: o que significa e quando se preocupar
- Felipe Garofallo
- 21 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A pleocitose é um termo utilizado para descrever o aumento anormal de células no líquido cefalorraquidiano (LCR), o fluido que banha o cérebro e a medula espinhal dos animais.
Em cães, esse achado é comumente observado durante a investigação de doenças neurológicas, principalmente em quadros de meningite, encefalite ou mielite.

O exame do líquor, portanto, torna-se uma ferramenta fundamental quando o animal apresenta sintomas como crises convulsivas, dor cervical, alterações de comportamento, andar cambaleante, rigidez ou déficits neurológicos agudos.
Quando há suspeita de uma condição que envolva o sistema nervoso central, a coleta do líquor é realizada por punção da cisterna magna ou do espaço lombossacral.
A análise laboratorial avalia não só o número de células, mas também sua morfologia, o tipo celular predominante (neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, etc.), a concentração de proteínas e a pressão de abertura.
Uma pleocitose pode ser classificada de acordo com o tipo celular predominante: neutrofílica, linfocítica, eosinofílica ou mista.
Essa classificação ajuda a orientar o diagnóstico diferencial. Por exemplo, uma pleocitose neutrofílica pode estar presente em casos de meningite bacteriana, meningoencefalomielite imune-mediada (MUO) ou infecção por protozoários como Neospora e Toxoplasma.
Já uma pleocitose linfocítica é mais comum em infecções virais ou encefalites imunomediadas de curso mais crônico.
Vale ressaltar que, em alguns casos, a pleocitose pode ser discreta ou ausente, mesmo em doenças graves do sistema nervoso central. Isso pode ocorrer quando o quadro é muito inicial, quando há uso prévio de corticosteroides ou quando a inflamação é localizada em áreas que não comunicam diretamente com o líquor. Portanto, um líquor normal não exclui totalmente a presença de doença neurológica.
Além disso, alterações no LCR também podem ocorrer secundariamente a convulsões prolongadas, neoplasias, hemorragias ou compressões medulares, sem que haja necessariamente um processo inflamatório primário.
O achado de pleocitose exige uma interpretação cuidadosa, levando em conta o contexto clínico, a imagem de ressonância magnética (quando disponível), os exames sorológicos, a resposta ao tratamento e, em alguns casos, até mesmo a biópsia de sistema nervoso.
O tratamento vai depender da causa base: casos infecciosos demandam antimicrobianos específicos, enquanto doenças imunomediadas geralmente respondem bem a corticoides ou imunossupressores como a ciclosporina. Em todas as situações, o acompanhamento cuidadoso da evolução clínica e, se necessário, novas coletas de LCR, ajudam a ajustar o plano terapêutico.
Em resumo, a pleocitose em cães é um sinal de alerta que indica a presença de uma resposta inflamatória no sistema nervoso central. Sua interpretação correta pode fazer a diferença entre um diagnóstico precoce e um agravamento do quadro neurológico, reforçando a importância de uma abordagem integrada entre clínica, imagem e exames laboratoriais especializados.
Referências bibliográficas
DEWEY, Curtis W.; DA COSTA, Ronaldo C. Practical Guide to Canine and Feline Neurology. 3. ed.
Wiley-Blackwell, 2015.TROUILLOUD, Reinaldo Zorzal. Neurologia Veterinária: Casos Clínicos em Pequenos Animais. Medvep, 2021.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.