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Plasticidade neural após lesões ortopédicas: como o cérebro se adapta com a dor

A plasticidade neural é a capacidade do sistema nervoso de se reorganizar em resposta a estímulos, experiências e lesões, e desempenha um papel central na forma como o cérebro se adapta à dor após um trauma ortopédico.


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Quando um cão sofre uma lesão óssea, ligamentar ou articular, o estímulo doloroso repetido desencadeia uma série de mudanças funcionais e estruturais nos circuitos nervosos, alterando a maneira como o corpo percebe e processa a dor.


Nos primeiros estágios da lesão, os nociceptores periféricos são ativados e enviam sinais para a medula espinhal, onde ocorre a liberação de neurotransmissores excitatórios como glutamato e substância P.


Quando essa estimulação é contínua, os neurônios do corno dorsal tornam-se hiperativos, aumentando a sensibilidade ao estímulo.


Esse fenômeno, conhecido como sensibilização central, faz com que o sistema nervoso responda de forma exagerada, mesmo a toques leves ou movimentos normais.


Com o tempo, essa hiperatividade é consolidada em níveis superiores do sistema nervoso, principalmente no tálamo, córtex somatossensorial e sistema límbico.


O cérebro “aprende” a sentir dor de maneira persistente, mesmo quando a causa inicial já foi resolvida. Esse processo explica por que alguns cães continuam a apresentar desconforto e limitação de movimento após a cicatrização de uma fratura ou cirurgia ortopédica bem-sucedida.


A plasticidade neural, entretanto, não é apenas negativa. O mesmo mecanismo que perpetua a dor também permite a recuperação funcional, desde que o sistema nervoso receba estímulos adequados.


Intervenções como fisioterapia, acupuntura, estimulação elétrica, laserterapia e reeducação motora ajudam o cérebro a criar novos caminhos neuronais, substituindo os circuitos dolorosos por padrões de movimento e percepção saudáveis.


Esse processo é conhecido como reorganização cortical adaptativa. Além da modulação física, o componente emocional também tem papel importante.


Cães que vivenciam dor crônica desenvolvem alterações comportamentais, como ansiedade e retraimento, que reforçam o circuito de dor.


Ao promover experiências positivas e exercícios controlados, é possível restaurar o equilíbrio neuroquímico e favorecer a dessensibilização progressiva.


Em síntese, a plasticidade neural é o elo entre corpo e cérebro no contexto da dor ortopédica. Ela explica tanto a persistência da dor quanto a possibilidade de recuperação.


Com uma abordagem terapêutica que combine controle da inflamação, analgesia adequada e estímulos neuromotores graduais, o sistema nervoso pode reaprender a funcionar de forma harmoniosa, restaurando conforto e movimento ao paciente.


Referências bibliográficas:


1. Woolf, C. J., & Salter, M. W. (2000). Neuronal plasticity: increasing the gain in pain. Science, 288(5472), 1765–1769.


2. Lascelles, B. D. X., & Gaynor, J. S. (2009). Current concepts in the assessment and treatment of pain in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 39(6), 1209–1225.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.



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