A compulsão que alguns cães apresentam com a cauda, conhecida como comportamento de perseguição da cauda, é um fenômeno complexo que tem sido estudado extensivamente, especialmente em raças como Bull Terriers e Pastores Alemães.
Este comportamento é caracterizado por episódios repetitivos de perseguição da própria cauda, que podem variar de movimentos lentos e focados até giros rápidos e descontrolados.
Embora em alguns casos possa parecer uma atividade inofensiva ou até divertida, em sua forma mais grave, a perseguição da cauda pode ser debilitante e potencialmente fatal para o cão.
A etiologia desse comportamento é multifatorial e não está totalmente esclarecida. Inicialmente, pensava-se que a perseguição da cauda fosse causada por problemas como tumores cerebrais ou irritações locais, mas estudos mostraram que, na maioria dos casos, esses fatores não são a causa.
Em vez disso, o comportamento é frequentemente relacionado a transtornos compulsivos, similares ao transtorno obsessivo-compulsivo em humanos.
Cães que exibem essa compulsão frequentemente mostram um estado de dissociação do ambiente ao seu redor durante os episódios, tornando-se muitas vezes resistentes a interrupções e comandos dos tutores. Alguns podem até apresentar agressividade quando tentam interromper o comportamento.
A pesquisa também aponta para uma possível ligação entre a perseguição da cauda e condições neurológicas, como crises parciais complexas, que são um tipo de epilepsia. Estudos eletroencefalográficos mostraram atividade epileptiforme em Bull Terriers com comportamento de perseguição da cauda, sugerindo que, em alguns casos, o comportamento possa estar relacionado a crises epilépticas.
Além disso, há uma associação intrigante entre a perseguição da cauda e comportamentos como agressão episódica e comportamento trance-like, onde o cão parece estar em um estado de transe.
Além dos fatores comportamentais e neurológicos, a genética também desempenha um papel importante. Há uma predisposição genética em certas raças para desenvolver esse comportamento, sugerindo uma possível herança genética. A condição tende a surgir na juventude, geralmente antes ou logo após a puberdade, e é mais prevalente em cães machos do que em fêmeas.
Os impactos físicos da perseguição da cauda podem ser severos. Cães podem causar sérias lesões na própria cauda, necessitando, em alguns casos, de amputação devido à gravidade das feridas. Lesões adicionais incluem abrasões e cortes na cabeça e patas, resultantes de colisões com móveis e paredes durante os episódios de perseguição.
O manejo e o tratamento da perseguição da cauda envolvem abordagens comportamentais e farmacológicas. Os tutores são aconselhados a evitar punir o comportamento, pois isso pode aumentar a ansiedade e a agressividade. Em vez disso, estratégias de redirecionamento e distração, como o uso de brinquedos, podem ser eficazes. Tratamentos farmacológicos também podem ser prescritos para ajudar a controlar o comportamento.
Em resumo, a perseguição da cauda em cães é uma condição complexa e multifacetada, que envolve uma interação de fatores genéticos, neurológicos e comportamentais.
A compreensão dessa condição e o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo são cruciais para melhorar a qualidade de vida dos cães afetados e suas famílias.
Referências bibliográficas
Moon-Fanelli, Alice & Dodman, Nicholas & Famula, Thomas & Cottam, Nicole. (2011). Characteristics of compulsive tail chasing and associated risk factors in Bull Terriers. Journal of the American Veterinary Medical Association. 238. 883-9. 10.2460/javma.238.7.883.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta presencial ou consultoria on-line por vídeo pelo whatsapp (11)91258-5102.
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