Osteomalácea em cães
- Felipe Garofallo

- 9 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A osteomalácia em cães é uma condição caracterizada pelo amolecimento dos ossos, resultado de um processo de mineralização óssea inadequado.

Trata-se de uma patologia que, embora mais conhecida em humanos, também pode afetar cães, especialmente em casos de deficiência prolongada de vitamina D, distúrbios do metabolismo do cálcio e fósforo ou doenças renais crônicas. Quando presente, pode causar dor óssea difusa, fraqueza muscular, claudicação e fraturas patológicas, ou seja, fraturas que ocorrem com traumas mínimos devido à fragilidade esquelética.
A base fisiopatológica da osteomalácia está na falha da mineralização da matriz osteoide — o tecido recém-formado que deveria se tornar osso mineralizado. Em condições normais, essa matriz é composta por colágeno e outras proteínas, que posteriormente se impregnam com minerais, principalmente cálcio e fósforo.
Quando há deficiência desses minerais, especialmente por problemas de absorção intestinal ou distúrbios hormonais como o hiperparatireoidismo secundário, essa mineralização não ocorre adequadamente, deixando os ossos moles e suscetíveis a deformações.
Em cães, uma das causas mais comuns de osteomalácia é a deficiência de vitamina D, que pode ocorrer por dieta inadequada, especialmente em rações caseiras mal balanceadas ou dietas veganas não suplementadas.
A vitamina D é essencial para a absorção intestinal de cálcio e fósforo, e sua deficiência desencadeia uma cascata de distúrbios metabólicos que afetam diretamente a integridade do tecido ósseo. Filhotes em crescimento podem apresentar um quadro semelhante chamado raquitismo, enquanto em animais adultos o nome mais apropriado é osteomalácia.
A doença também pode estar associada a disfunções renais crônicas, nas quais a conversão da vitamina D em sua forma ativa nos rins está prejudicada. Além disso, doenças intestinais que causam má absorção, como doença inflamatória intestinal severa, podem contribuir para o desenvolvimento do quadro.
É importante destacar que a osteomalácia não deve ser confundida com a osteoporose, pois esta última envolve perda da massa óssea já mineralizada, enquanto a osteomalácia refere-se a uma falha na mineralização da nova matriz óssea.
O diagnóstico pode envolver exames laboratoriais que revelem hipocalcemia, hipofosfatemia ou aumento dos níveis de paratormônio (PTH), além de radiografias que mostram ossos com densidade diminuída, zonas de Looser (áreas de pseudofraturas) e, em alguns casos, deformidades. A biópsia óssea é considerada o padrão-ouro para confirmação do diagnóstico, embora raramente seja necessária quando os achados clínicos e laboratoriais são consistentes.
O tratamento baseia-se na correção da causa subjacente, com suplementação adequada de vitamina D, cálcio e fósforo, ajuste dietético e, nos casos renais, controle da uremia e do metabolismo mineral.
O prognóstico é geralmente favorável quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é instituído adequadamente, embora a recuperação completa da estrutura óssea possa levar semanas a meses. Durante o processo de recuperação, é recomendável evitar exercícios intensos e garantir um ambiente seguro para prevenir fraturas.
Referências bibliográficas:
Ettinger, S. J., & Feldman, E. C. (2017). Textbook of Veterinary Internal Medicine. 8th ed. Elsevier.
Reusch, C. E., & Schellenberg, S. (2009). Disorders of calcium and phosphate metabolism in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 39(1), 83–106.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.