Osso cortical e esponjoso em cães
- Felipe Garofallo

- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
O esqueleto dos cães é formado por dois tipos principais de tecido ósseo: o osso cortical (também chamado de compacto) e o osso esponjoso (ou trabecular). Ambos têm funções complementares e são fundamentais para a sustentação, proteção, locomoção e metabolismo mineral do organismo canino.

Conhecer suas características é essencial para entender como ocorrem fraturas, como o osso se regenera e como determinadas doenças ósseas se desenvolvem.
Osso cortical (compacto)
O osso cortical é a camada externa e densa dos ossos, especialmente evidente nas diáfises (parte central e alongada) dos ossos longos, como fêmur, tíbia, rádio e úmero. Ele representa cerca de 80% da massa óssea total e tem como principais funções:
Proporcionar rigidez e resistência à compressão e torção
Suportar carga mecânica durante o movimento
Proteger a medula óssea contida na cavidade interna (canal medular)
Microscopicamente, o osso cortical é formado por sistemas de osteonas (sistemas de Havers), estruturas cilíndricas organizadas em torno de vasos sanguíneos e nervos, que permitem a nutrição e manutenção do tecido ósseo. Apesar de parecer sólido, ele é altamente vascularizado e metabolicamente ativo.
Osso esponjoso (trabecular)
O osso esponjoso é o tecido mais leve, poroso e interno, encontrado principalmente nas epífises dos ossos longos (extremidades), nos ossos curtos (como as vértebras) e nas áreas próximas às articulações. Ele é formado por uma rede tridimensional de trabéculas (finas hastes ou lâminas ósseas) organizadas conforme as linhas de força a que o osso é submetido.
Entre as funções do osso esponjoso estão:
Absorver impacto e distribuir cargas articulares
Servir como suporte para a medula óssea vermelha, responsável pela produção de células sanguíneas
Permitir remodelação óssea rápida, pois tem maior superfície disponível para reabsorção e deposição óssea
Importância clínica e cirúrgica
Na prática veterinária, a distinção entre osso cortical e esponjoso tem implicações diretas no manejo de fraturas, planejamento cirúrgico e reabilitação.
Fraturas em osso cortical, como nas diáfises, tendem a ser mais instáveis e demoram mais para cicatrizar devido à menor vascularização e remodelação mais lenta. Demandam, em geral, técnicas de fixação mais rígidas, como placas e parafusos.
Fraturas em osso esponjoso, como nas epífises ou em ossos trabeculares (ex.: cabeça femoral, corpo vertebral), costumam cicatrizar mais rapidamente, mas podem ser instáveis devido à menor densidade. Fixações com parafusos esponjosos ou hastes intramedulares são mais comuns nesses casos.
Além disso, doenças como a osteoporose e a doença renal crônica afetam de maneira mais evidente o osso esponjoso, por ele ser mais metabolicamente ativo. Já em condições como osteomielite, necrose avascular ou tumores ósseos, ambos os tipos de osso podem estar envolvidos, com diferentes graus de severidade.
Conclusão
O osso cortical oferece força e suporte estrutural, enquanto o esponjoso fornece leveza, absorção de impacto e metabolismo ativo. Juntos, eles garantem ao esqueleto canino a capacidade de suportar grandes forças mecânicas sem perder flexibilidade e função metabólica.
Compreender suas diferenças é essencial para a ortopedia veterinária moderna, especialmente no diagnóstico de fraturas, planejamento cirúrgico, e reabilitação de pacientes.
Referências bibliográficas:
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair (4th ed.). Elsevier.
Johnson, A. L., & Houlton, J. E. F. (2004). AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. Thieme.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.