O que muda entre placas DCP e placas bloqueadas?
- Felipe Garofallo
- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Placas DCP (Dynamic Compression Plate) e placas bloqueadas (como as placas LCP – Locking Compression Plate) são implantes ortopédicos amplamente utilizados na medicina veterinária para estabilização de fraturas em cães e gatos.

Embora ambas tenham como objetivo principal a fixação óssea rígida, há diferenças estruturais e biomecânicas fundamentais entre elas, que influenciam diretamente na escolha do implante mais adequado para cada situação clínica.
As placas DCP foram projetadas para promover compressão entre os fragmentos ósseos à medida que os parafusos são apertados. Isso ocorre por meio de orifícios elípticos que permitem o deslocamento do parafuso ao ser introduzido de forma excêntrica, gerando um efeito de compressão dinâmica.
Esse sistema depende do perfeito contato entre a placa e o osso, exigindo modelagem cuidadosa da placa para que ela se adapte bem à superfície óssea.
O atrito entre a placa e o osso, aliado à compressão interfragmentar, confere estabilidade ao foco de fratura. No entanto, esse contato íntimo também compromete a vascularização periosteal, o que pode retardar a cicatrização óssea em alguns casos, especialmente em pacientes com biologia óssea prejudicada.
Já as placas bloqueadas funcionam de maneira diferente. Seus orifícios roscados permitem que os parafusos se travem na própria placa, formando um ângulo fixo entre parafuso e placa. Isso cria uma estrutura mais rígida e menos dependente do contato direto com o osso.
Como resultado, a placa bloqueada pode ser aplicada de forma minimamente invasiva, com preservação da vascularização periosteal e redução do trauma cirúrgico.
Esse tipo de implante é particularmente útil em fraturas comminutivas, metafisárias, em ossos osteoporóticos, ou em pacientes de pequeno porte e com biologia óssea comprometida, como idosos ou imunossuprimidos.
Além disso, por ser um sistema angular estável, a placa bloqueada oferece maior resistência à falha por afrouxamento de parafusos, principalmente em casos com suporte ósseo limitado.
Outro ponto importante é que nas placas DCP os parafusos atuam como pontos de compressão entre osso e placa, enquanto nas placas bloqueadas eles funcionam como pilares sustentando a placa a uma certa distância do osso, o que caracteriza o chamado "princípio do fixador interno".
Isso permite uma melhor distribuição de cargas e menor risco de colapso do foco de fratura, mesmo em casos onde não há contato direto entre os fragmentos.
Na prática clínica, a escolha entre uma placa DCP e uma placa bloqueada depende de diversos fatores, como o tipo de fratura, a qualidade óssea, o porte do animal, a técnica cirúrgica disponível e os objetivos biomecânicos do procedimento.
Em muitos casos, placas híbridas (como a LCP, que combina orifícios de compressão e bloqueio) oferecem o melhor dos dois mundos: possibilidade de compressão interfragmentar quando desejado e travamento angular para maior estabilidade onde necessário.
Portanto, entender as diferenças entre placas DCP e placas bloqueadas é essencial para o planejamento cirúrgico ortopédico eficaz. A decisão correta pode impactar significativamente na consolidação da fratura, no tempo de recuperação e no sucesso clínico do tratamento.
Referências bibliográficas:
PIERMATTEI, D. L.; FLO, G. L.; DE CAMP, C. E. Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4th ed. Saunders, 2006.
JOHNSON, A. L.; HOHN, R. B.; SCHAEFFER, D. J. “Biomechanical comparison of dynamic compression plates and locking compression plates in a canine femoral gap model.” Vet Surg., 2005.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.