O que fazer se meu cachorro tropeça com frequência?
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
- 2 min de leitura
Quando um cachorro começa a tropeçar com frequência, esse comportamento deve ser interpretado como um sinal clínico de alerta.

Animais saudáveis e bem coordenados não tropeçam de forma repetida, por isso, esse sintoma geralmente indica algum problema ortopédico, neurológico ou até mesmo sistêmico que precisa ser investigado.
Uma das causas mais comuns são as doenças ortopédicas. Alterações como displasia coxofemoral, displasia de cotovelo, luxação de patela e ruptura do ligamento cruzado cranial comprometem a estabilidade das articulações, levando o cão a perder apoio em determinados momentos e tropeçar durante a caminhada ou a corrida.
Cães idosos também podem desenvolver artrose, que gera rigidez e dor, reduzindo a amplitude de movimento e facilitando tropeços.
Outro grupo importante de causas envolve as doenças neurológicas. Problemas na medula espinhal, como hérnias de disco, mielopatia degenerativa ou compressões vertebrais, podem alterar a propriocepção, ou seja, a capacidade do animal de perceber a posição dos seus membros no espaço. Isso resulta em tropeços, arrastar das unhas no chão e, em casos mais avançados, fraqueza ou paralisia.
Raças como Dachshund, Shih Tzu, Lhasa Apso e Pastor Alemão estão entre as mais predispostas a esse tipo de alteração.
Também é preciso considerar condições mais simples e localizadas, como problemas nos pés e unhas.
Unhas excessivamente compridas podem alterar o contato da pata com o solo, facilitando tropeços. Já ferimentos em coxins, presença de corpos estranhos (espinhos, pedras) ou dermatites interdigital podem provocar dor e levar o cão a apoiar mal a pata.
Alterações visuais, como catarata ou degeneração progressiva da retina, também podem causar tropeços frequentes, já que o animal perde a percepção correta dos obstáculos.
O que deve ser feito depende diretamente da causa. O primeiro passo é levar o cão ao médico-veterinário para uma avaliação clínica detalhada.
O exame físico, associado a exames de imagem como radiografias, ultrassonografia ou até ressonância magnética, pode ajudar a identificar se a origem é ortopédica ou neurológica. Em alguns casos, exames laboratoriais também são necessários para descartar doenças metabólicas que causem fraqueza muscular.
O tratamento pode variar desde medidas simples, como corte adequado das unhas e cuidados com as almofadas plantares, até terapias mais complexas, incluindo uso de anti-inflamatórios, analgésicos, fisioterapia, acupuntura e, em alguns casos, cirurgia corretiva.
Se a causa for neurológica, o manejo precoce é essencial para evitar progressão do quadro e preservar a qualidade de vida do animal.
Em resumo, tropeços frequentes em cães não devem ser vistos como algo normal ou apenas uma característica do animal. Eles representam um sinal de que algo não está bem no sistema locomotor ou nervoso.
A investigação precoce pelo médico-veterinário é fundamental para identificar a causa, indicar o tratamento correto e garantir que o cachorro continue ativo, confortável e com qualidade de vida.
Referências bibliográficas
Fossum, T. W. (2019). Small Animal Surgery. 5th ed. Elsevier.
Lorenz, M. D., Coates, J. R., & Kent, M. (2010). Handbook of Veterinary Neurology. 5th ed. Saunders.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.