Não união óssea em cães
- Felipe Garofallo

- 12 de ago.
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Atualizado: 12 de set.
A não união óssea, também chamada de não consolidação ou pseudoartrose, é uma complicação ortopédica em que o osso fraturado não cicatriza dentro do tempo esperado para a espécie e localização anatômica, mesmo com o tratamento instituído.

Em cães, o processo normal de reparo ósseo envolve uma sequência coordenada de fases inflamatória, reparativa e de remodelação, que dependem de estabilidade mecânica, suprimento sanguíneo adequado e ambiente biológico favorável.
Quando um ou mais desses fatores é comprometido, a consolidação pode não ocorrer, levando à formação de um tecido fibroso ou fibrocartilaginoso entre os fragmentos, em vez de um calo ósseo mineralizado.
As causas mais comuns de não união óssea em cães incluem instabilidade mecânica devido a fixação inadequada ou falha do implante, infecção no foco de fratura (osteomielite), falha no suprimento vascular do segmento ósseo, perda significativa de tecido ósseo, interposição de tecido mole entre os fragmentos e fatores sistêmicos que afetam a cicatrização, como desnutrição, doenças endócrinas (ex.: hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo) e uso prolongado de corticosteroides.
Além disso, fraturas em ossos com baixa vascularização, como a tíbia distal, rádio distal e ossos do carpo e tarso, apresentam risco aumentado de não união.
A pseudoartrose pode ser classificada radiograficamente em dois grandes grupos: hipertrófica e atrófica. A não união hipertrófica ocorre quando há estímulo biológico preservado, mas falta estabilidade mecânica, levando à formação exuberante de calo ósseo não organizado ao redor da fratura.
Enquanto isso, a não união atrófica é caracterizada por ausência de resposta biológica, com extremidades ósseas escleróticas e afinadas, geralmente associada a grave comprometimento vascular ou infecção crônica.
O diagnóstico é baseado na história clínica, exame físico e avaliação radiográfica seriada, observando a ausência de progressão na formação de calo ósseo e persistência da linha de fratura após o período esperado de consolidação. O animal frequentemente apresenta claudicação persistente, dor à palpação do foco de fratura e, em alguns casos, deformidades.
O tratamento da não união óssea exige abordagem cirúrgica para restaurar a estabilidade, remover tecido fibroso ou material necrótico e, muitas vezes, promover estímulo biológico por meio de enxertos ósseos autólogos, alógenos ou substitutos sintéticos.
O tipo de fixação escolhido depende da localização e natureza da fratura, podendo incluir placas de compressão, fixadores externos rígidos, hastes intramedulares associadas a bloqueio e, em casos complexos, técnicas de osteotomia corretiva para alinhar o membro.
O manejo também deve incluir tratamento da infecção, quando presente, e correção de fatores sistêmicos que possam prejudicar a cicatrização.
A prevenção da não união óssea está diretamente ligada a um planejamento cirúrgico adequado, execução precisa da estabilização, preservação do suprimento vascular durante a manipulação do foco de fratura e monitoramento rigoroso no pós-operatório, incluindo restrição de atividade até a consolidação radiográfica completa.
Com diagnóstico precoce e tratamento correto, é possível restaurar a função do membro e evitar sequelas permanentes.
Referências
Piermattei DL, Flo GL, DeCamp CE. Brinker, Piermattei, and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 5th ed. Elsevier; 2016.
Johnson AL, Houlton JEF, Vannini R. AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. 2nd ed. Thieme; 2018.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.