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Miopatia não inflamatória de origem endócrina em cães

Atualizado: 12 de set.

A miopatia não inflamatória de origem endócrina em cães é uma condição musculoesquelética que ocorre como consequência secundária de distúrbios hormonais, especialmente hipotireoidismo e hipercortisolismo (síndrome de Cushing).


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Diferentemente das miopatias inflamatórias, como a polimiosite, essa forma de miopatia não está relacionada a processos imunomediados ou infecciosos diretos no tecido muscular, mas sim a alterações metabólicas e hormonais crônicas que afetam o funcionamento e a integridade do tecido muscular esquelético.


No hipotireoidismo, a deficiência dos hormônios tireoidianos compromete o metabolismo basal dos tecidos, incluindo o músculo esquelético. Esses hormônios são fundamentais para a manutenção da função mitocondrial, do turnover proteico e do fluxo de cálcio nas fibras musculares. A deficiência prolongada resulta em atrofia muscular, letargia, intolerância ao exercício e, em alguns casos, mialgia leve.


O quadro clínico geralmente é insidioso e pode ser confundido com sinais relacionados à idade ou obesidade. O exame físico pode revelar rigidez muscular difusa, fraqueza, reflexos tendíneos diminuídos e, em casos mais crônicos, atrofia visível, principalmente em músculos proximais dos membros.


Já na síndrome de Cushing, causada por excesso de glicocorticoides endógenos ou exógenos, ocorre catabolismo proteico acentuado, o que leva à degeneração das fibras musculares tipo II, especialmente nos músculos proximais.


O cão apresenta fraqueza muscular generalizada, intolerância ao exercício, atrofia visível (especialmente nos músculos temporais e dos membros pélvicos), além da clássica postura com cifose lombar, barriga pendular e locomoção rígida.


O sinal clínico pode ser erroneamente atribuído à obesidade, mas a palpação revela massa muscular reduzida e tônus muscular comprometido.


O diagnóstico da miopatia endócrina é clínico-laboratorial e deve sempre considerar o histórico geral do paciente, presença de sinais sistêmicos (como letargia, alopecia, poliúria/polidipsia), alterações bioquímicas (hipercolesterolemia, aumento de enzimas hepáticas, leucograma compatível) e exames hormonais confirmatórios, como dosagem de T4 total e TSH para hipotireoidismo, e teste de supressão com dexametasona ou ACTH para hipercortisolismo.


A eletromiografia pode demonstrar sinais discretos ou estar dentro da normalidade, e a biópsia muscular revela alterações características de atrofia, como fibras musculares pequenas, sem sinais inflamatórios significativos.


O tratamento consiste principalmente no controle da endocrinopatia de base. No hipotireoidismo, a suplementação com levotiroxina leva a uma melhora progressiva dos sinais clínicos, incluindo a recuperação do tônus e massa muscular. Na síndrome de Cushing, o uso de trilostano ou mitotano pode reverter parcialmente o quadro de atrofia, embora em casos crônicos as alterações musculares possam ser irreversíveis.


O prognóstico depende da duração e severidade da endocrinopatia, assim como da resposta ao tratamento instituído. A fisioterapia veterinária pode ter um papel complementar importante na recuperação da força muscular e da mobilidade.


A identificação precoce da miopatia endócrina é fundamental para evitar a progressão do comprometimento muscular e melhorar a qualidade de vida do paciente. Como muitas vezes os sinais clínicos são vagos e inespecíficos, o médico-veterinário deve manter um alto grau de suspeita, especialmente em raças predispostas ou em cães com sintomas sistêmicos compatíveis com distúrbios hormonais.


Referências bibliográficas:

Côté, E. (2019). Clinical Veterinary Advisor: Dogs and Cats (4th ed.). Elsevier.

DiBartola, S. P. (2012). Fluid, Electrolyte, and Acid-Base Disorders in Small Animal Practice (4th ed.). Elsevier.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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