Mielografia em cães
- Felipe Garofallo

- 22 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A mielografia em cães é um exame de diagnóstico por imagem utilizado para avaliar a medula espinhal e suas estruturas adjacentes, especialmente em casos de suspeita de compressão medular, hérnia de disco, fraturas vertebrais ou lesões de origem neurológica que não podem ser visualizadas com clareza em radiografias convencionais.

Apesar do avanço da tomografia computadorizada e da ressonância magnética, a mielografia ainda é amplamente utilizada em muitas clínicas e hospitais veterinários, principalmente por ser uma opção mais acessível e viável em locais onde os exames de alta complexidade não estão disponíveis.
O procedimento consiste na injeção de um meio de contraste iodado não iônico no espaço subaracnoide, localizado entre as meninges que envolvem a medula espinhal.
Essa substância permite delinear a medula nas radiografias, criando uma imagem mais nítida de sua estrutura, dos espaços intervertebrais e de possíveis áreas de compressão ou deslocamento. O contraste pode ser administrado por punção lombossacra ou cisternal, dependendo da região da coluna que se deseja investigar e da preferência do profissional.
A principal indicação da mielografia é a investigação de doenças compressivas da medula espinhal, como hérnias discais (especialmente as extrusões), neoplasias intrarraquidianas ou extramedulares, fraturas ou luxações vertebrais com suspeita de envolvimento medular, malformações congênitas, estenose de canal vertebral e presença de discos mineralizados que causam sinais neurológicos.
Também pode ser útil na avaliação de lesões traumáticas ou inflamatórias de origem incerta, quando os sinais clínicos apontam para um comprometimento neurológico medular, mas não há confirmação por radiografia simples.
O procedimento exige anestesia geral, uma vez que o cão deve permanecer completamente imóvel durante a punção e as radiografias subsequentes. Após a administração do contraste, são obtidas imagens em diferentes projeções laterais, ventrodorsais e oblíquas, que ajudam o veterinário a identificar alterações como deslocamento da coluna de contraste, interrupções, estreitamentos ou assimetrias ao longo do canal vertebral.
Em alguns casos, é possível associar a mielografia à tomografia computadorizada, técnica conhecida como mielotomografia, que oferece imagens ainda mais precisas.
Embora seja um exame seguro quando realizado por profissionais capacitados, a mielografia não é isenta de riscos. A introdução do contraste pode provocar efeitos adversos como convulsões, vômitos, tremores musculares, hipotermia ou mesmo agravamento dos sinais neurológicos em animais muito sensíveis.
Por esse motivo, a escolha do contraste adequado, a técnica correta de punção e o monitoramento pós-anestésico são etapas essenciais para minimizar complicações. O jejum prévio e a estabilização clínica do paciente também são importantes para garantir a segurança do procedimento.
O tempo de recuperação após a mielografia costuma ser rápido, e a maioria dos cães recebe alta no mesmo dia ou no dia seguinte, dependendo da evolução clínica. Em alguns casos, os tutores podem notar uma leve sonolência ou falta de coordenação motora nas horas seguintes, efeitos transitórios relacionados à anestesia ou ao contraste.
A interpretação das imagens deve ser feita por um veterinário com experiência em diagnóstico por imagem ou neurologia, pois a acurácia do exame depende tanto da execução técnica quanto da análise minuciosa dos detalhes radiográficos.
Apesar das limitações em comparação com a ressonância magnética que oferece imagens mais detalhadas de tecidos moles e da medula em si, a mielografia continua sendo uma ferramenta valiosa na rotina neurológica veterinária, especialmente em clínicas onde os recursos tecnológicos ainda são restritos.
Ela permite uma avaliação direta do espaço subaracnoide e do contorno medular, fornecendo informações fundamentais para o planejamento cirúrgico, o prognóstico e a conduta terapêutica nos casos de doenças medulares.
Em resumo, a mielografia é um exame complementar relevante para o diagnóstico de afecções da medula espinhal em cães. Quando realizada de forma criteriosa e com técnica adequada, pode fornecer respostas diagnósticas essenciais e contribuir de forma decisiva na recuperação neurológica dos pacientes.
Referência bibliográfica:
Lorenz, M. D., Coates, J. R., & Kent, M. (2011). Handbook of Veterinary Neurology (5th ed.). Elsevier Health Sciences.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.