Meu cachorro gritou quando peguei no colo: o que pode ser?
- Felipe Garofallo

- 20 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
Ouvir um grito de dor do seu cachorro no momento em que você o pega no colo é algo que costuma gerar alarme imediato. Muitos tutores relatam esse episódio como algo súbito e aparentemente sem motivo.

O cão estava tranquilo, deitado ou andando normalmente, e ao ser erguido, emite um grunhido alto, se encolhe ou tenta fugir. A dúvida que surge é inevitável: será que é algo sério? Preciso correr para o veterinário?
Esse tipo de dor aguda costuma ser uma manifestação real de incômodo, e não um simples susto ou manha. Os cães, diferentemente dos humanos, tendem a disfarçar a dor até o limite. Quando vocalizam, é porque a intensidade foi significativa, e isso merece atenção.
A primeira possibilidade que deve ser considerada é uma origem ortopédica ou neurológica. A dor pode estar relacionada à coluna vertebral, a articulações, à musculatura profunda ou até mesmo a uma compressão de raiz nervosa.
Em muitos casos, não há um trauma visível ou recente, o que confunde o tutor. Mas a ausência de pancada não exclui problemas importantes, como hérnias de disco, deslocamentos articulares ou lesões progressivas que estavam em evolução silenciosa.
Em cães de porte pequeno ou raças predispostas, como Dachshund, Shih-tzu, Poodle e Lhasa Apso, uma das principais suspeitas é a doença do disco intervertebral, que pode causar dor súbita ao movimentar a coluna. O tutor, ao erguer o animal com as mãos sob o tórax e o quadril, sem perceber acaba tensionando a coluna.
Se houver um disco intervertebral lesionado ou prestes a romper, essa tração pode ser o gatilho para a dor. Em outras situações, a origem pode estar no quadril, como em casos de displasia coxofemoral. Quando o animal é suspenso, o fêmur se movimenta dentro do acetábulo e isso pode desencadear dor intensa em cães com articulações instáveis ou inflamações locais.
Problemas de joelho, como luxação de patela ou mesmo uma ruptura de ligamento cruzado, também podem gerar desconforto ao serem manipulados, mesmo que o cão ainda esteja apoiando a pata normalmente no chão.
Outro ponto relevante é que alguns cães demonstram dor mais intensamente quando estão em repouso há muito tempo. O tutor vai pegar no colo um cão que estava dormindo e, ao movimentá-lo, aquela articulação que estava inflamada ou aquela vértebra que está instável responde com uma dor aguda.
Por isso, a dor não acontece o tempo todo, o que leva muitos tutores a acreditarem que foi um episódio isolado, sem importância. Mas quando esse comportamento se repete ou se intensifica, é sinal de que há algo progredindo.
Em algumas situações, a dor não tem origem ortopédica, mas sim visceral. Inflamações abdominais, como pancreatite ou até gases intensos, podem gerar dor profunda ao serem manipuladas regiões próximas ao abdome. Nesses casos, a dor é mais difusa e o cão costuma apresentar outros sinais, como apatia, falta de apetite ou postura encolhida.
Ainda assim, é importante descartar causas locomotoras antes de concluir por dores abdominais, já que a maioria dos gritos ao ser erguido está relacionada à movimentação de ossos, músculos ou nervos.
A melhor forma de identificar a causa é por meio de uma avaliação veterinária detalhada. O exame físico, somado ao histórico clínico e, se necessário, exames de imagem como raio-X, tomografia ou ressonância, ajuda a localizar o ponto exato da dor e entender sua origem.
O tutor não deve tentar manipular excessivamente o animal para testar “onde dói”, pois isso pode piorar o quadro ou causar uma reação defensiva. Também não é recomendável oferecer medicamentos por conta própria, alguns anti-inflamatórios humanos são tóxicos para cães e podem agravar a situação.
Por mais que o cão pareça bem logo após o grito, ou volte a se movimentar normalmente, o episódio não deve ser ignorado. A dor é um sinal de alerta.
Mesmo que temporária, ela pode estar indicando uma condição crônica que ainda está no início. Quanto antes diagnosticada, maiores as chances de tratamento com bons resultados e menor risco de sequelas. Em alguns casos, o problema pode ser resolvido com repouso e medicação. Em outros, pode ser necessária uma abordagem cirúrgica, especialmente em casos de hérnias ou lesões ligamentares graves.
Ver um cão gritar de dor ao ser tocado é algo que toca emocionalmente o tutor. Não é apenas um sintoma físico, é uma quebra na confiança, um momento de fragilidade que expõe o quanto nossos animais precisam da nossa atenção.
Se isso aconteceu com o seu cão, não espere ele piorar. Procure um veterinário, de preferência com experiência ortopédica, para avaliar e orientar a melhor conduta. Cuidar da dor do seu pet é garantir qualidade de vida, mobilidade e conforto para ele continuar ao seu lado com alegria e bem-estar.
Referências:
Brisson, B. A. (2010). Intervertebral disc disease in dogs. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 40(5), 829–858.
Tobias, K. M., & Johnston, S. A. (2013). Veterinary Surgery: Small Animal. Elsevier Health Sciences.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.