Meu cachorro está andando desequilibrado: o que pode ser?
- Felipe Garofallo
- há 4 horas
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Quando um cachorro começa a andar desequilibrado, cambaleando ou parecendo “bêbado”, isso quase nunca é apenas uma mudança de comportamento.
Na maioria dos casos, é um sinal de que algo está interferindo diretamente na coordenação, no equilíbrio ou na capacidade neuromuscular do animal. Esse tipo de alteração deve ser levado a sério porque muitas das causas envolvem dor intensa, comprometimento neurológico ou problemas ortopédicos que podem evoluir rapidamente.
Um dos motivos mais comuns é a chamada ataxia vestibular. O sistema vestibular é responsável pelo equilíbrio e pela noção espacial do corpo. Quando ele falha, o cão pode começar a andar torto, cair para um lado, apresentar movimentos rápidos dos olhos (nistagmo) e ter dificuldade em manter a cabeça alinhada. Essa alteração pode acontecer por causas periféricas, como otite interna severa, ou centrais, quando há envolvimento do sistema nervoso central.
Embora a forma periférica seja a mais comum e tenha evolução mais favorável, a forma central exige atenção imediata porque pode estar ligada a inflamações neurológicas, intoxicações ou até tumores.
Outra causa frequente desse tipo de marcha anormal é a hérnia de disco. Em cães, especialmente aqueles com coluna mais susceptível, como Dachshunds, Shih-tzus e Lhasa Apsos, o disco intervertebral pode se deslocar e comprimir a medula espinhal. Isso altera a comunicação entre cérebro e membros, resultando em desequilíbrio, fraqueza e tropeços.
Quando a hérnia ocorre na região cervical, o tutor pode notar rigidez, dor ao movimentar o pescoço e dificuldade de coordenar os membros. Já nas hérnias toracolombares, a perda de equilíbrio tende a vir acompanhada de arraste das patas traseiras ou quedas súbitas durante a caminhada. O diagnóstico precoce é essencial para evitar piora neurológica.
Dores ortopédicas intensas também podem provocar desequilíbrio. Quando um cão está com ruptura do ligamento cruzado cranial, luxação de patela ou dor articular severa por osteoartrite, ele tenta compensar alterando a forma de apoiar os membros.
Esse ajuste para evitar dor pode passar a impressão de que o animal está desequilibrado ou com movimentos imprecisos.
Em muitos casos, o tutor percebe que o cão está “estranho” antes mesmo de observar uma claudicação evidente. Quanto mais avançada estiver a doença ortopédica, maior a chance de o desequilíbrio se tornar visível.
Problemas neurológicos mais graves, como mielites, tumores ou degenerações da medula, também podem causar alterações progressivas no equilíbrio.
Nesses casos, o tutor pode observar uma evolução lenta, em que o cão começa apenas tropeçando ocasionalmente e, com o tempo, passa a cambalear de forma constante. Esses quadros exigem investigação completa com exame físico detalhado, exames de imagem como radiografias e, em alguns casos, ressonância magnética.
Independentemente da causa, qualquer sinal de desequilíbrio deve ser avaliado por um veterinário o quanto antes. Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, maiores são as chances de tratamento eficaz e rápida recuperação.
Em casos de compressão medular ou processos que afetam o sistema vestibular, esperar pode resultar em piora significativa, perda de coordenação e dificuldade de locomoção.
Se o tutor percebe que o cão está andando torto, caindo para os lados ou apresentando movimentos oculares anormais, é importante buscar atendimento imediato.
Esses sinais indicam que o animal está sofrendo alguma alteração relevante do sistema neurológico ou musculoesquelético, e somente uma avaliação profissional pode definir o tratamento adequado.
Referências bibliográficas – de Lahunta A, Glass E. Veterinary Neuroanatomy and Clinical Neurology. Saunders; 2009.
– Sharp NJH, Wheeler SJ. Small Animal Spinal Disorders: Diagnosis and Surgery. Elsevier; 2005.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.