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Meu cachorro correu e gritou: pode ser ruptura do cruzado?

Quando um cachorro está correndo, brincando ou pulando e, de repente, solta um grito agudo, para imediatamente a atividade ou começa a mancar sem apoiar bem a pata traseira, uma das primeiras suspeitas deve ser a ruptura do ligamento cruzado cranial.


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Esse tipo de ruptura geralmente acontece em um movimento brusco de torção do joelho, como quando o cão faz uma curva rápida, escorrega em um piso liso, pula para pegar uma bolinha ou desce de um sofá de forma desajeitada.


O grito é uma resposta súbita à dor intensa que surge no exato momento em que o ligamento se rompe ou se distende de forma severa.


Na maioria das vezes, o tutor descreve exatamente assim: “ele estava correndo, gritou e não apoiou mais a pata”. A ruptura do cruzado não depende de trauma forte.


Na realidade, a maioria dos cães desenvolve um processo degenerativo silencioso no ligamento ao longo do tempo, até que um movimento relativamente simples desencadeia a ruptura parcial ou total.


É por isso que tutores muitas vezes não entendem como um gesto tão comum causou um problema tão grande.


A dor aparece de forma imediata porque o ligamento tem função fundamental de estabilizar o joelho; quando ele falha, a tíbia se desloca para frente em relação ao fêmur, causando inflamação, instabilidade, estiramento da cápsula articular e um espasmo doloroso da musculatura ao redor.


Por isso o cachorro tenta evitar o apoio da pata, mantém o membro suspenso ou coloca apenas a ponta do dedo no chão.


É comum que o cachorro volte a andar um pouco após alguns minutos ou horas, o que faz muitos tutores acreditarem que “não era nada grave”.


Porém, essa melhora inicial não significa que o problema foi resolvido; a instabilidade continua ali cada vez que o animal apoia o peso, e a dor pode variar de intensidade conforme o grau de inflamação.


Em casos de ruptura parcial, o cão pode mancar de forma intermitente, piorando após exercícios ou ao acordar. Em rupturas totais, é mais comum a ausência completa de apoio e dor intensa logo após o evento.


Além disso, alguns tutores notam inchaço no joelho, relutância em subir escadas, dificuldade para pular e uma postura típica em que o cachorro tenta deslocar o peso para a outra pata.


A suspeita de ruptura do cruzado aumenta muito quando o tutor relata um estalo ou o famoso “grito na corrida” seguido de claudicação imediata.


Entretanto, outros problemas podem se apresentar de forma semelhante, como luxação de patela, lesões musculares ou danos no menisco.


A diferença é que, na ruptura do cruzado, quase sempre existe uma instabilidade característica que só pode ser detectada com exame físico adequado, através de testes específicos como o “teste de gaveta” ou o “compressão tibial”, que avaliam se a tíbia se desloca de forma anormal em relação ao fêmur.


Em muitos cães, especialmente os que apresentam dor intensa ou muita tensão muscular, pode ser necessário sedar para avaliar corretamente.


O diagnóstico definitivo é clínico, associado ao histórico do tutor. Radiografias são fundamentais para avaliar inflamação, presença de efusão articular, osteófitos e descartar outras alterações, mas não mostram diretamente o ligamento.


Ainda assim, em 90% dos casos, a história típica de grito súbito, mancar imediato e instabilidade no joelho já indicam fortemente a ruptura. Quando necessário, exames mais avançados como ultrassom ou ressonância podem ser usados, mas não são rotina na maioria das situações clínicas.


Se a ruptura for confirmada, o tratamento ideal geralmente envolve cirurgia para restabelecer a biomecânica do joelho e impedir que a instabilidade continue destruindo a cartilagem e o menisco.


Procedimentos como TPLO ou TTA são os mais utilizados e têm ótimos resultados quando feitos no momento certo. Quanto mais cedo houver avaliação veterinária, menores são os riscos de danos no menisco e maior a chance de recuperação completa.


Por isso, quando um cachorro corre, grita e começa a mancar de forma súbita, a recomendação é sempre a mesma: considerar a ruptura do cruzado como uma suspeita séria até que um ortopedista a descarte.


Referências bibliográficas


Bennett D, Tennant B. Cranial cruciate ligament rupture in the dog—current status. Vet J. 2017;224:45-53.Christopher SA, Beetem J, Cook JL. Comparison of surgical treatments for canine cranial cruciate ligament disease. Vet Surg. 2013;42(7):834-842.

Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


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