Meningoencefalomielite de origem desconhecida (MUO) em cães
- Felipe Garofallo

- 19 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A meningoencefalomielite de origem desconhecida (MUO, do inglês meningoencephalomyelitis of unknown origin) é um grupo de doenças inflamatórias que acomete o sistema nervoso central de cães, caracterizando-se por uma resposta imunomediada sem causa infecciosa comprovada.

Trata-se de uma condição grave e frequentemente progressiva, que afeta principalmente cães jovens a adultos, de raças pequenas e médias, com predisposição em algumas raças como Pug, Maltês, Yorkshire Terrier, Chihuahua e Shih Tzu.
A MUO engloba diferentes apresentações clínicas e histopatológicas, como a encefalite granulomatosa (GME), a encefalite necrotizante (NE), subdividida em necrotizante de cérebro (NME) e de tronco encefálico (NLE), e outras variantes menos comuns. Embora compartilhem características inflamatórias autoimunes, essas formas diferem na localização predominante da inflamação, no padrão de destruição tecidual e na evolução clínica.
Os sinais clínicos são variados e dependem das áreas do sistema nervoso afetadas. Podem incluir convulsões, ataxia, alterações comportamentais, cegueira súbita, torcicolo, paralisia e sinais vestibulares.
Em muitos casos, os sintomas se instalam de forma aguda ou subaguda e progridem rapidamente. O diagnóstico é desafiador e requer uma combinação de exames, como ressonância magnética do encéfalo ou da medula espinhal, análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), sorologias para excluir causas infecciosas e avaliação clínica detalhada.
A histopatologia é o único método definitivo para distinguir entre os subtipos de MUO, mas raramente é realizada em vida.
Como não há um agente infeccioso identificado, acredita-se que a MUO seja desencadeada por um distúrbio imunológico, em que o sistema imune ataca os tecidos do próprio sistema nervoso central.
O tratamento é baseado no uso de imunossupressores, como corticosteroides (prednisolona ou dexametasona) em altas doses, muitas vezes associados a medicamentos como citosina arabinosídeo, azatioprina, micofenolato de mofetila ou ciclosporina, com o objetivo de controlar a resposta inflamatória e retardar a progressão da doença.
A resposta ao tratamento é variável: alguns cães melhoram com o controle adequado, enquanto outros apresentam recidivas ou evolução rápida para o óbito.
Apesar dos avanços no reconhecimento e manejo da MUO, o prognóstico ainda é reservado. A resposta ao tratamento, a rapidez no início da terapia e o tipo específico de MUO influenciam significativamente o desfecho clínico.
Por se tratar de uma condição sem cura conhecida, o acompanhamento constante e ajustes terapêuticos ao longo do tempo são fundamentais para manter a qualidade de vida dos pacientes.
Referências bibliográficas:
Granger, N., & Smith, P. M. (2007). Inflammatory diseases of the central nervous system in dogs: A review. Veterinary Journal, 174(3), 290–305.
Coates, J. R., & Jeffery, N. D. (2014). Perspectives on meningoencephalomyelitis of unknown origin in dogs. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 44(6), 1157–1185.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.