Luxação de patela em cães
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Luxação de patela em cães

Atualizado: 23 de jan.

Luxação medial de patela, luxação da rótula.


Definição

A patela (rótula) é um pequeno osso posicionado imediatamente abaixo do tendão de inserção do grupo de músculos do quadríceps.


A patela atua como uma polia durante a extensão normal da articulação do joelho. Ela desliza para cima e para baixo dentro de uma fossa na articulação, o sulco troclear. Em alguns cães, a patela se desloca fora desse sulco. A consequência dessa luxação é a incapacidade de estender adequadamente a articulação do joelho.


Além da claudicação causada pela deficiência mecânica do joelho afetado, há vários graus de dor e osteoartrite.

Como suspeitar


A luxação de patela é uma condição comum. Afeta principalmente cães (embora os gatos também possam ser afetados) e é mais comum em cães menores (embora cães de todos os tamanhos possam ser afetados). A idade de início dos sinais clínicos é variável.


A maioria dos animais começa a mostrar sinais quando filhotes ou adultos jovens, embora o aparecimento de sinais em cães adultos também seja comum. Animais com postura de “pernas arqueadas” são mais propensos a serem afetados pela luxação patelar. Uma claudicação característica “saltitante” é frequentemente vista, onde os animais mancam por alguns passos e então rapidamente voltam ao normal.


Alguns animais mancam continuamente e alguns cães afetados pela luxação de patela em ambos os joelhos apresentam uma marcha rígida e desajeitada com joelhos que não se estendem adequadamente.


Etiologia (causa)


A principal condição tem origem pela genética e pelo desenvolvimento, podendo também ser traumática. Os animais nascem com joelhos normais, mas começam a desenvolver anormalidades nos ossos e músculos dos membros posteriores no início da vida.


A direção mais comum do movimento inadequado da patela é para o aspecto medial (interno) da articulação do joelho, tanto em raças pequenas como em raças grandes. Entretanto, quando falamos da luxação lateral, ela ocorre com maior frequência em cães de raças grandes.


Na rotação medial, quando o mecanismo do quadríceps começa a se deslocar nessa direção, ele age como uma corda e faz com que os ossos da coxa (fêmur) e da canela (tíbia) se deformem em um arco pronunciado para fora.


O sulco que normalmente abriga a patela não se desenvolve adequadamente e as deformidades dos membros se perpetuam neste estágio.


Sinais clínicos (sintomas)


A medida que a patela se move para dentro e para fora do sulco troclear, ela pode causar danos na cartilagem da própria patela e na crista sobre a qual passa ao luxar.


Isso causa dor e desencadeia uma cascata de osteoartrite progressiva. Além disso, a tração anormal do quadríceps causa rotação interna da tíbia em relação ao fêmur que pode causar tensão em outras estruturas dentro do joelho, incluindo o ligamento cruzado cranial (LCC), e o menisco medial. Quanto mais tempo a patela fica fora de seu sulco normal, mais raso o sulco se torna.


Diagnóstico


A luxação de patela geralmente é detectada durante o exame físico pelo veterinário. Também é comum observar uma marcha anormal ou 'salto' durante o exercício.


Normalmente, ao encontrar uma patela luxada, seu veterinário irá encaminhá-lo para avaliação de um cirurgião ortopédico especialista.


Graus


O sistema de graduação da luxação de patela é baseado na mobilidade da patela em relação ao sulco troclear do fêmur.

  • Grau 1: a patela pode ser luxada com pressão manual, mas, por outro lado, está dentro do sulco troclear.

  • Grau 2: a patela sai do sulco espontaneamente, geralmente associada a claudicação saltitante ou quando o joelho se move.

  • Grau 3: a patela é permanentemente luxada, mas pode ser recolocada manualmente no sulco troclear.

  • Grau 4: a patela é permanentemente luxada e não pode ser recolocada manualmente no sulco troclear.

Tratamento


Ocasionalmente, a luxação patelar é diagnosticada acidentalmente durante um exame físico de rotina. Em cães adultos com esse achado pode ser incidental, o tratamento não cirúrgico pode ser a melhor opção. Em animais imaturos, o manejo cirúrgico pode ser mais apropriado para tentar prevenir o desenvolvimento de deformidades graves nos membros.

A cirurgia é fortemente recomendada para luxação patelar de grau 3 e 4. Para patelar medial de grau 2, luxação apenas cães que exibem sinais clínicos significativos - ou seja, claudicação, são recomendados para tratamento cirúrgico. A cirurgia é pouco recomendada para um grau 1. Entretanto, alguns profissionais defendem a cirurgia em todos os graus de luxação, com finalidade de tentar reduzir o processo de osteoartrite.


Não adie


A luxação patelar, quando severa, pode causar anormalidades esqueléticas, como arqueamento do fêmur ou tíbia. Em casos mais brandos, frequentemente vemos perda de cartilagem na parte inferior da patela e / ou na superfície do sulco conforme a cartilagem é fisicamente desgastada da patela e desliza para fora do sulco.


Pacientes com luxação patelar medial também são mais propensos a desenvolver doença do ligamento cruzado cranial . Como a maioria das doenças, se a condição está causando um problema clínico, quanto mais cedo for tratada, melhor para o paciente, tanto a curto quanto a longo prazo.


Tratamento não cirúrgico


Os pilares do tratamento não cirúrgico são o controle do peso corporal, a fisioterapia, a modificação dos exercícios e a medicação (analgésicos antiinflamatórios). Essas mesmas técnicas também são importantes no manejo de curto prazo de cães tratados cirurgicamente, embora o objetivo cirúrgico primário seja minimizar a necessidade de restrição de exercícios e medicação em longo prazo.


Tratamento cirúrgico


Os tratamentos cirúrgicos são recomendados para cães com claudicação intermitente ou permanente como resultado da luxação patelar. Existem muitas técnicas cirúrgicas; o objetivo principal é restaurar o alinhamento normal do músculo quadríceps em relação a todo o membro. Isso requer remodelagem dos ossos e reconstrução dos tecidos moles.


Transposição da tuberosidade tibial


O componente mais importante do reparo é realinhar a inserção do tendão entre a patela (rótula) e a tíbia. Como os ossos cicatrizam com muito mais eficiência do que os tendões, o osso ao qual esse tendão está preso é cortado e movido para uma posição mais apropriada. Ele é colocado de volta no lugar e o osso cicatriza gradualmente ao longo das 4-8 semanas seguintes.

Osteotomia corretiva do fêmur

Em alguns cães com uma curvatura acentuada no fêmur (osso da coxa), é realizada a correção do fêmur. Para realizar essa correção, é feita a retirada de uma cunha do osso, e o fêmur é reparado com uma placa óssea e parafusos. A osteotomia em varo femoral é mais comumente realizada em cães maiores e cães com graus mais elevados de luxação patelar. As tomografias são particularmente importantes no planejamento de tais correções.


Trocleoplastia


Quando o sulco por onde a patela normalmente desliza é muito raso, é realizada uma cirurgia para aprofundar o sulco. Isso envolve a remoção de uma cunha ou bloco de cartilagem e osso. Imbricação lateral da cápsula articular e da fáscia lata


Na maioria dos cães afetados pela luxação de patela, a sutura de imbricação lateral da cápsula articular e da fáscia lata faz parte da cirurgia de correção para ajudar a patela a permanecer na posição correta.


Sutura anti-rotacional


A sutura anti-rotacional, técnica similar a sutura realizada para estabilizar o joelho em lesões de ligamento cruzado cranial, é utilizada quando a causa da luxação da patela está relacionada com a rotação interna da tíbia.


Conclusão


A luxação patelar é extremamente comum em cães de raças pequenas e é uma das principais causas de claudicação dos membros pélvicos e de desenvolvimento inicial de osteoartrite no joelho dos cães.


O diagnóstico é essencial para prevenir um maior desenvolvimento da doença e alterações articulares secundárias graves. No entanto, a tomada de decisão pode ser um desafio porque o grau de deformidade esquelética e osteoartrite presente, bem como o potencial para progressão da osteoartrite variam de caso para caso.


De acordo com cada anormalidade identificada, o tratamento é individual para cada paciente. A vasta gama de técnicas disponíveis e sua combinação podem fornecer opção adequada para qualquer tipo de causa de luxação patelar. O tratamento para cães com grau l e ll de luxação de patela medial pode ser não cirúrgico, mas caso o cão possua claudicação, a cirurgia é considerada como uma boa opção.


É importante lembrar que a luxação congênita tem um caráter hereditário, e os animais afetados não devem ser colocados para reprodução.


Referências


Di Dona, Francesco & Valle, Giovanni & Fatone, Gerardo. (2018). Patellar luxation in dogs. Veterinary Medicine: Research and Reports. Volume 9. 23-32. 10.2147/VMRR.S142545.


Nunamaker DM. Patellar luxation. In: Newton CD, Nunamaker DM, editors. Textbook of Small Animal Orthopaedics. Philadelphia: Lippincott; 1985:941–947.


DeAngelis M. Patellar luxation in dogs. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 1996;1:403–415.


Roush JK. Canine patellar luxation. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 1993;23(4):855–868.


Bosio F, Bufalari A, Peirone B, Petazzoni M, Vezzoni A. Prevalence, treatment and outcome of patellar luxation in dogs in Italy. A retrospective multicentric study (2009–2014). Vet Comp Orthop Traumatol. 2017;30(5):364–370


Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972), especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades. Agende uma consulta pelo whatsapp (11)91258-5102.

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