Lesões ortopédicas silenciosas: o que o RX nem sempre mostra
- Felipe Garofallo

- 5 de nov.
- 2 min de leitura
Nem todas as lesões ortopédicas em cães são facilmente visíveis no exame radiográfico, e isso pode levar a diagnósticos subestimados quando o profissional se baseia apenas nas imagens.

O raio X é excelente para avaliar estruturas ósseas, mas tem limitações importantes na detecção de alterações em tecidos moles, cartilagem, tendões, ligamentos e fases iniciais de inflamação articular.
Em muitos casos, o tutor percebe claudicação, dor intermitente ou queda de desempenho, mas o RX parece “normal”. Isso acontece porque, nas fases iniciais de doenças ortopédicas como osteoartrite, displasia coxofemoral ou lesões de ligamento cruzado cranial parcial, as alterações ainda são microscópicas ou apenas inflamatórias, não produzindo modificações visíveis no osso.
A inflamação subclínica e a degeneração de colágeno nas fibras ligamentares, por exemplo, podem estar ativas semanas antes que qualquer sinal radiográfico — como osteófitos ou esclerose subcondral — apareça.
Lesões musculares, tendíneas e capsulares também são invisíveis ao RX.
Rupturas parciais do tendão do bíceps braquial, inflamação do músculo supraespinhoso e instabilidade ligamentar de baixo grau são causas frequentes de dor no ombro ou no joelho que passam despercebidas em radiografias convencionais.
Nesses casos, exames complementares como ultrassonografia musculoesquelética, tomografia computadorizada ou ressonância magnética são indispensáveis para identificar a real origem da dor.
Outra limitação importante é a interpretação bidimensional da radiografia. Como as imagens são planas, pequenas fissuras, microfraturas e desalinhamentos discretos podem não ser visíveis dependendo do ângulo da tomada.
É por isso que projeções múltiplas e comparativas bilaterais são recomendadas em qualquer avaliação ortopédica de precisão.
Além dos exames de imagem, a avaliação clínica continua sendo insubstituível.
Testes de mobilidade articular, palpação dirigida, análise de marcha e avaliação proprioceptiva revelam alterações funcionais que precedem as mudanças radiográficas.
Em resumo, a radiografia é uma ferramenta valiosa, mas não definitiva.
Lesões ortopédicas silenciosas exigem olhar clínico apurado e o uso combinado de métodos diagnósticos mais sensíveis, garantindo que o tratamento seja iniciado ainda nas fases iniciais — quando a recuperação é mais rápida e completa.
Referências bibliográficas:
1. Thrall, D. E. (2018). *Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology* (7th ed.). Elsevier.
2. Penninck, D., & d’Anjou, M. A. (2015). *Atlas of Small Animal Ultrasonography* (2nd ed.). Wiley-Blackwell.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.