Lesões de tendão em cães: como diagnosticar e tratar
- Felipe Garofallo

- 3 de nov.
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As lesões tendíneas em cães representam um desafio diagnóstico e terapêutico na ortopedia veterinária, devido ao caráter insidioso de muitas dessas afecções e à importância biomecânica dos tendões na locomoção.

Os tendões são estruturas fibrosas compostas predominantemente por colágeno tipo I, responsáveis por transmitir a força muscular ao osso.
Quando submetidos a sobrecarga, trauma direto ou degeneração progressiva, sofrem microlesões que, se não identificadas precocemente, podem evoluir para rupturas parciais ou completas.
O diagnóstico precoce é essencial para garantir um prognóstico favorável. Inicialmente, o animal pode apresentar apenas claudicação discreta, relutância ao movimento ou dor à palpação localizada.
O exame físico deve incluir inspeção cuidadosa, palpação comparativa bilateral e avaliação dinâmica da marcha.
Em muitos casos, a inflamação inicial não é evidente à radiografia, motivo pelo qual a ultrassonografia musculoesquelética é o método de escolha.
Esse exame permite visualizar alterações de ecogenicidade, espessamento tendíneo, áreas de descontinuidade e presença de líquido peritendíneo, sendo ideal para o diagnóstico e acompanhamento da cicatrização.
Em casos mais complexos, a ressonância magnética oferece detalhamento tridimensional das fibras tendíneas e da inserção óssea.
O tratamento varia conforme o grau da lesão. Nas tendinites leves, a abordagem conservadora com repouso controlado, crioterapia nas fases iniciais e o uso de anti-inflamatórios não esteroidais costuma ser eficaz.
A reabilitação precoce com fisioterapia, laserterapia e ultrassom terapêutico auxilia na organização das fibras colágenas e reduz o risco de aderências.
Em casos de ruptura parcial significativa, pode-se associar terapia regenerativa, como o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) ou células-tronco mesenquimais, que aceleram o reparo tecidual e promovem regeneração de colágeno de melhor qualidade.
Nas rupturas completas, o tratamento cirúrgico é indispensável. A sutura tendínea deve ser feita com técnica que ofereça resistência à tração e estimule o alinhamento longitudinal das fibras, como o padrão “locking loop” ou “Bunnell-Mayer”.
Após a cirurgia, a imobilização temporária e a reabilitação progressiva são cruciais para evitar re-rupturas e garantir o retorno funcional.
O processo de cicatrização tendínea é lento e pode levar de 8 a 12 semanas, exigindo monitoramento clínico e ultrassonográfico contínuo.
Em resumo, as lesões tendíneas exigem diagnóstico precoce e manejo individualizado para evitar sequelas funcionais.
A integração entre diagnóstico por imagem, terapias regenerativas e reabilitação física moderna é o caminho mais eficaz para restaurar a força, elasticidade e estabilidade do tendão lesionado.
Referências bibliográficas:
1. Millis, D. L., & Levine, D. (2014). *Canine Rehabilitation and Physical Therapy* (2nd ed.). Elsevier.
2. Pettitt, R. A., & German, A. J. (2015). Investigation and management of tendon injuries in dogs. *In Practice*, 37(8), 363–374.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.