Leishmaniose cutânea em cães
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
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A leishmaniose cutânea em cães é uma forma de manifestação clínica da infecção por protozoários do gênero Leishmania, transmitidos pelo flebotomíneo, conhecido popularmente como mosquito-palha.

Embora a leishmaniose visceral seja a apresentação mais discutida devido ao seu impacto sistêmico e zoonótico, muitos cães desenvolvem lesões predominantemente cutâneas, que podem variar em intensidade e extensão, sendo um dos sinais mais característicos da doença no dia a dia da clínica veterinária.
As lesões de pele geralmente aparecem como áreas de alopecia, descamação, úlceras de difícil cicatrização e crostas, especialmente em regiões menos cobertas por pelos, como face, orelhas, extremidades dos membros e cauda.
É comum observar perda de pelo em torno dos olhos, conferindo ao animal o aspecto chamado de "óculos de pele". Em alguns casos, as lesões podem se estender, tornando-se generalizadas e acompanhadas de prurido ou desconforto. O crescimento exagerado das unhas (onicogrifose) também é um achado cutâneo bastante frequente em cães com leishmaniose.
O diagnóstico da leishmaniose cutânea em cães deve ser baseado na associação entre os sinais clínicos e exames laboratoriais. Como as lesões de pele podem ser confundidas com dermatites de origem alérgica, bacteriana, fúngica ou autoimune, é fundamental realizar testes confirmatórios.
Os métodos sorológicos (ELISA e RIFI) são os mais usados no Brasil, enquanto a PCR, quando disponível, oferece maior sensibilidade e especificidade. A citologia de lesões cutâneas ou de linfonodos pode permitir a visualização direta do parasita.
O tratamento segue os mesmos princípios da leishmaniose visceral, utilizando combinações de alopurinol, miltefosina ou antimoniato de meglumina, sempre com acompanhamento veterinário.
Esses protocolos não eliminam completamente o protozoário, mas reduzem a carga parasitária e melhoram os sinais clínicos, incluindo a cicatrização das lesões cutâneas. Além disso, o uso de coleiras impregnadas com deltametrina ou flumetrina é fundamental para reduzir a chance de novos mosquitos se infectarem ao picar o animal.
A prevenção continua sendo a forma mais eficaz de controle, combinando vacinação em cães soronegativos, uso de repelentes, manejo ambiental e barreiras físicas para reduzir o contato com os vetores.
Como a leishmaniose cutânea também reflete a presença do parasita no organismo, deve ser encarada como parte de uma infecção sistêmica, ainda que os sinais visíveis estejam restritos à pele.
Portanto, a leishmaniose cutânea em cães é uma manifestação importante da doença, que além de comprometer a qualidade de vida do animal, reforça o papel epidemiológico do cão como reservatório.
O reconhecimento precoce das lesões cutâneas, aliado ao diagnóstico correto e à instituição rápida do tratamento, é essencial para melhorar o bem-estar do paciente e reduzir o risco de transmissão para outros animais e seres humanos.
Referências bibliográficas
Solano-Gallego, L., Miró, G., Koutinas, A., et al. (2011). LeishVet guidelines for the practical management of canine leishmaniosis. Parasites & Vectors, 4:86.
Feitosa, M. M., Ikeda, F. A., Luvizotto, M. C. R., & Perri, S. H. V. (2000). Aspectos clínicos de cães com leishmaniose visceral no município de Araçatuba, São Paulo (Brasil). Clinical Veterinary, 5(28), 46–50.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.