Inflamação subclínica em cães: o que acontece antes da dor aparecer
- Felipe Garofallo

- 13 de out.
- 2 min de leitura
A inflamação subclínica é o primeiro estágio silencioso de muitos processos degenerativos nas articulações dos cães, ocorrendo muito antes que o tutor perceba sinais de dor, claudicação ou rigidez.

Mesmo sem manifestações clínicas evidentes, alterações microscópicas e bioquímicas já estão em curso, modificando o ambiente articular e iniciando um ciclo de degradação que, se não interrompido, evolui para osteoartrite e dor crônica.
Em condições normais, o líquido sinovial e a cartilagem articular funcionam em equilíbrio, garantindo lubrificação e absorção de impacto.
Com o envelhecimento, microtraumas repetitivos, sobrepeso ou predisposição genética, esse equilíbrio é rompido. As células sinoviais e condrocitárias começam a liberar citocinas inflamatórias como IL-1β e TNF-α, além de enzimas degradativas conhecidas como metaloproteinases de matriz (MMPs).
Essa liberação ocorre de forma discreta, sem causar dor imediata, mas suficiente para alterar a estrutura molecular da cartilagem e diminuir a viscosidade do líquido sinovial.
Nesse estágio, o cão pode apresentar pequenas mudanças de comportamento, como redução espontânea da atividade física, preferência por descanso prolongado ou relutância em realizar movimentos bruscos.
No entanto, o exame físico e os exames de imagem convencionais, como a radiografia, muitas vezes ainda não revelam alterações. Apenas métodos mais sensíveis, como a ressonância magnética ou a análise bioquímica do líquido sinovial, podem identificar o processo inflamatório incipiente.
A inflamação subclínica também afeta o metabolismo dos condrocitos.
Essas células, que normalmente mantêm a matriz cartilaginosa, passam a produzir colágeno de menor qualidade e reduzem a síntese de proteoglicanos, prejudicando a capacidade da cartilagem de reter água e resistir à compressão.
Paralelamente, há aumento na produção de radicais livres e de fragmentos de colágeno, que perpetuam o estado inflamatório.
Esse círculo vicioso progride lentamente, até que a destruição da cartilagem e o aumento da fricção articular se tornem suficientes para ativar os nociceptores e gerar dor perceptível.
Compreender e identificar a inflamação subclínica é essencial para o diagnóstico precoce e a prevenção da osteoartrite. Intervenções nessa fase, como controle de peso, exercícios leves de baixo impacto e suplementação com antioxidantes, ácidos graxos ômega-3, colágeno e ácido hialurônico, podem restaurar o equilíbrio articular e impedir a progressão da doença.
A medicina veterinária moderna caminha para uma abordagem preventiva da ortopedia, focada em detectar alterações antes que o animal manifeste dor.
A inflamação subclínica representa uma janela de oportunidade: tratá-la precocemente significa preservar articulações, prolongar a mobilidade e garantir qualidade de vida aos cães em qualquer fase da vida.
Referências bibliográficas:
1. Johnston, S. A. (1997). Osteoarthritis: Joint anatomy, physiology, and pathobiology. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 27(4), 699–723.
2. Bockstahler, B. A., Levine, D., & Millis, D. L. (2020). Essential Facts of Physiotherapy in Dogs and Cats. VBS GmbH.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.