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Inflamação subclínica em cães: o que acontece antes da dor aparecer

A inflamação subclínica é o primeiro estágio silencioso de muitos processos degenerativos nas articulações dos cães, ocorrendo muito antes que o tutor perceba sinais de dor, claudicação ou rigidez.


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Mesmo sem manifestações clínicas evidentes, alterações microscópicas e bioquímicas já estão em curso, modificando o ambiente articular e iniciando um ciclo de degradação que, se não interrompido, evolui para osteoartrite e dor crônica.


Em condições normais, o líquido sinovial e a cartilagem articular funcionam em equilíbrio, garantindo lubrificação e absorção de impacto.


Com o envelhecimento, microtraumas repetitivos, sobrepeso ou predisposição genética, esse equilíbrio é rompido. As células sinoviais e condrocitárias começam a liberar citocinas inflamatórias como IL-1β e TNF-α, além de enzimas degradativas conhecidas como metaloproteinases de matriz (MMPs).


Essa liberação ocorre de forma discreta, sem causar dor imediata, mas suficiente para alterar a estrutura molecular da cartilagem e diminuir a viscosidade do líquido sinovial.


Nesse estágio, o cão pode apresentar pequenas mudanças de comportamento, como redução espontânea da atividade física, preferência por descanso prolongado ou relutância em realizar movimentos bruscos.


No entanto, o exame físico e os exames de imagem convencionais, como a radiografia, muitas vezes ainda não revelam alterações. Apenas métodos mais sensíveis, como a ressonância magnética ou a análise bioquímica do líquido sinovial, podem identificar o processo inflamatório incipiente.


A inflamação subclínica também afeta o metabolismo dos condrocitos.


Essas células, que normalmente mantêm a matriz cartilaginosa, passam a produzir colágeno de menor qualidade e reduzem a síntese de proteoglicanos, prejudicando a capacidade da cartilagem de reter água e resistir à compressão.


Paralelamente, há aumento na produção de radicais livres e de fragmentos de colágeno, que perpetuam o estado inflamatório.


Esse círculo vicioso progride lentamente, até que a destruição da cartilagem e o aumento da fricção articular se tornem suficientes para ativar os nociceptores e gerar dor perceptível.


Compreender e identificar a inflamação subclínica é essencial para o diagnóstico precoce e a prevenção da osteoartrite. Intervenções nessa fase, como controle de peso, exercícios leves de baixo impacto e suplementação com antioxidantes, ácidos graxos ômega-3, colágeno e ácido hialurônico, podem restaurar o equilíbrio articular e impedir a progressão da doença.


A medicina veterinária moderna caminha para uma abordagem preventiva da ortopedia, focada em detectar alterações antes que o animal manifeste dor.


A inflamação subclínica representa uma janela de oportunidade: tratá-la precocemente significa preservar articulações, prolongar a mobilidade e garantir qualidade de vida aos cães em qualquer fase da vida.


Referências bibliográficas:


1. Johnston, S. A. (1997). Osteoarthritis: Joint anatomy, physiology, and pathobiology. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 27(4), 699–723.


2. Bockstahler, B. A., Levine, D., & Millis, D. L. (2020). Essential Facts of Physiotherapy in Dogs and Cats. VBS GmbH.


Sobre o autor


Dr. Felipe Garofallo, veterinário ortopedista, especializado no diagnóstico e tratamento de problemas articulares e musculoesqueléticos em cães

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.


Horário: Segunda à sexta, 09h às 18h. Sábados 10:00 às 14:00
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