Infecções em implantes ortopédicos: prevenção baseada em biofilme
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
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As infecções em implantes ortopédicos são uma das complicações mais preocupantes em ortopedia veterinária e humana, principalmente porque estão intimamente ligadas à formação de biofilme bacteriano.

Diferentemente de bactérias livres, as bactérias organizadas em biofilme aderem à superfície metálica do implante, envolvem-se em uma matriz extracelular protetora e tornam-se até mil vezes mais resistentes a antibióticos e à resposta imune do hospedeiro.
Por isso, infecções pós-cirúrgicas com implantes tendem a ser crônicas, refratárias ao tratamento clínico e, em muitos casos, só se resolvem com a retirada do material.
A prevenção, portanto, deve ir além da profilaxia antimicrobiana tradicional e focar em estratégias que reduzam a adesão bacteriana e a maturação do biofilme.
Alguns pontos-chave:
1. Preparação do paciente e do campo cirúrgico:
A antissepsia rigorosa da pele, o controle de infecções sistêmicas pré-existentes e a manutenção de ambiente cirúrgico estéril são medidas clássicas, mas fundamentais. Em ortopedia, qualquer contaminação inicial pode se perpetuar pelo biofilme no implante.
2. Profilaxia antimicrobiana racional
O uso de antibióticos profiláticos deve ser feito antes da incisão, de modo a garantir concentração sérica eficaz no momento crítico da exposição óssea. O prolongamento indiscriminado após a cirurgia não previne o biofilme e aumenta resistência bacteriana.
3. Escolha do implante e da superfície
Implantes com superfícies polidas e homogêneas têm menor adesão bacteriana inicial em comparação a superfícies rugosas ou com imperfeições.
Avanços recentes incluem o desenvolvimento de implantes com revestimentos antibacterianos (prata, íons de cobre, antibióticos ligados à superfície) e tratamentos que tornam a superfície menos favorável à colonização.
Em pesquisa, há também ligas metálicas com liberação controlada de elementos antimicrobianos.
4. Manuseio cirúrgico atraumático:
Tempo cirúrgico reduzido, mínimo contato do implante com o ambiente e preservação dos tecidos adjacentes reduzem o risco de contaminação e de necrose, que favorecem a instalação do biofilme.
5. Terapias adjuvantes em casos de risco elevado:
O uso de cimento ósseo impregnado com antibiótico é um exemplo clássico, principalmente em cirurgias de revisão ou em ossos já infectados. Isso garante altas concentrações locais de antimicrobianos, embora não elimine totalmente a possibilidade de biofilme.
6. Estratégias emergentes Há grande interesse em métodos inovadores, como nanorrevestimentos antibacterianos, uso de peptídeos antimicrobianos fixados ao implante, superfícies que liberam óxido nítrico ou que inibem a comunicação bacteriana (quorum sensing), fundamentais na maturação do biofilme. Esses recursos ainda estão em fase experimental, mas representam futuro promissor.
Em resumo, a prevenção de infecções associadas a implantes ortopédicos exige abordagem multimodal: rigor asséptico, antibiótico profilático adequado, escolha consciente do implante e atenção a técnicas de manuseio que reduzam a colonização inicial.
Como o biofilme, uma vez estabelecido, é praticamente impossível de erradicar apenas com antibióticos, a estratégia mais eficaz é evitar sua formação desde o início.
Referências bibliográficas
Trampuz A, Zimmerli W. Diagnosis and treatment of infections associated with fracture-fixation devices. Injury. 2006;37 Suppl 2:S59-S66.
Metsemakers WJ, Moriarty TF, Morgenstern M, et al. Fracture-related infection: A consensus on definition from an international expert group. Injury. 2018;49(3):505-510.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.