Impotência funcional do membro em cães e gatos
- Felipe Garofallo
- 29 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
A impotência funcional de um membro em cães e gatos é definida como a incapacidade parcial ou total de usar uma das patas de forma eficiente para sustentação, locomoção ou manipulação.
Essa condição pode ter origem neurológica, musculoesquelética ou até mesmo vascular, e representa uma emergência diagnóstica que exige avaliação clínica minuciosa.
Diferente da claudicação leve ou da dor localizada, a impotência funcional é uma falha completa na biomecânica do membro, o que pode causar quedas frequentes, arraste do membro ao andar, ausência de apoio e alterações posturais compensatórias. Ela pode ocorrer tanto em membros torácicos quanto pélvicos e afetar cães e gatos de qualquer idade, embora sua etiologia varie conforme a espécie, idade e histórico clínico.
Entre as causas mais comuns estão as lesões neurológicas, especialmente aquelas que envolvem os nervos periféricos, a medula espinhal ou as raízes nervosas. A síndrome do plexo braquial, por exemplo, frequentemente observada após atropelamentos, é uma das causas clássicas de impotência funcional do membro torácico.
Nesse caso, o animal arrasta o membro sem qualquer resposta motora ou sensitiva, podendo inclusive desenvolver automutilação ou escaras. Já em membros pélvicos, lesões medulares toracolombares, como hérnias de disco do tipo Hansen I ou traumas vertebrais, são causas recorrentes de paralisia com perda de função.
Lesões ortopédicas severas também podem provocar impotência funcional, como luxações articulares graves, fraturas múltiplas ou expostas, ruptura de tendões extensores ou flexores, e necrose óssea. Embora a dor intensa possa levar o animal a não utilizar o membro, a impotência funcional verdadeira geralmente está associada a perda de integridade mecânica ou neurológica do sistema locomotor.
Outra causa menos comum, mas igualmente grave, é a tromboembolia aórtica, especialmente em gatos com cardiomiopatia hipertrófica. Nesses casos, um êmbolo (coágulo) se aloja na bifurcação da aorta, interrompendo o fluxo sanguíneo para os membros pélvicos. O animal apresenta impotência súbita nas patas traseiras, dor intensa, patas frias ao toque e ausência de pulso femoral.
O diagnóstico exige abordagem sistemática, começando por um exame físico ortopédico e neurológico completo. Avaliações como testes de dor profunda, propriocepção, reflexos espinhais e tônus muscular ajudam a localizar a lesão e diferenciar se a origem é neurológica, musculoesquelética ou vascular.
Exames complementares como radiografias, mielografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e doppler ultrassonográfico são frequentemente necessários.
O tratamento dependerá da causa subjacente. Lesões ortopédicas graves podem requerer estabilização cirúrgica, enquanto neuropatias podem demandar tratamento clínico, descompressão cirúrgica, fisioterapia e suporte prolongado.
Em casos vasculares, como a tromboembolia, o tratamento costuma ser de suporte, com foco na dor, anticoagulação e manejo da cardiopatia, embora o prognóstico nesses casos seja reservado.
A impotência funcional de um membro é sempre um sinal de alerta. A identificação precoce da causa e o início do tratamento adequado são cruciais não apenas para preservar a função do membro, mas também para evitar complicações graves, como atrofia muscular irreversível, contraturas, necrose ou sofrimento prolongado do paciente.
Referências bibliográficas:
Dewey, C. W., & da Costa, R. C. (2016). Practical Guide to Canine and Feline Neurology (3rd ed.). Wiley-Blackwell.
Fossum, T. W. (2019). Small Animal Surgery (5th ed.). Elsevier.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.