Implantes biodegradáveis em ortopedia veterinária
- Felipe Garofallo

- 16 de set.
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Implantes biodegradáveis representam uma das linhas mais promissoras da ortopedia moderna, tanto humana quanto veterinária.

A ideia é simples: oferecer estabilidade temporária, suficiente para permitir a consolidação óssea, e depois ser gradualmente degradado e absorvido pelo organismo, evitando a necessidade de uma segunda cirurgia para retirada do implante. Mas quando falamos em veterinária, a questão ainda transita entre o presente e o futuro.
Atualmente, o uso clínico rotineiro em cães e gatos é limitado. A maior parte dos implantes ortopédicos empregados na prática veterinária continua sendo metálica (titânio ou aço inoxidável), dada sua previsibilidade, resistência e custo relativamente acessível.
Os implantes biodegradáveis, sobretudo à base de polímeros (como PLA, PGA e PLGA) ou ligas metálicas de magnésio e zinco, vêm sendo estudados em ambiente experimental e em alguns casos clínicos específicos, mas ainda não atingiram a robustez necessária para substituir o padrão-ouro em fraturas complexas ou pacientes de grande porte.
Entre os polímeros biodegradáveis, já existem aplicações clínicas em ortopedia veterinária, como pinos, parafusos e âncoras para pequenas fraturas, suturas ortopédicas ou fixação de enxertos.
O problema é que esses materiais possuem menor resistência mecânica, o que restringe seu uso a fraturas estáveis, de pequeno porte ou em regiões com baixo estresse. Além disso, a degradação pode gerar subprodutos ácidos que desencadeiam reação inflamatória local.
As ligas de magnésio e zinco são a grande promessa do futuro. Elas possuem módulo de elasticidade mais próximo do osso e se degradam lentamente em meio fisiológico, ao mesmo tempo em que liberam íons com efeito potencialmente osteoindutor.
Os desafios atuais são controlar a velocidade de corrosão (o magnésio puro degrada rápido demais, liberando hidrogênio em excesso) e garantir que a resistência mecânica se mantenha até a consolidação completa. Em cães, há relatos experimentais positivos, mas o uso ainda é restrito a protocolos de pesquisa.
Outro ponto de avanço é a manufatura aditiva (impressão 3D), que permite projetar implantes biodegradáveis customizados, ajustando geometria e porosidade para otimizar resistência e integração com o osso. Essa tecnologia, que já tem aplicação prática em guias de corte cirúrgico e substitutos ósseos impressos, abre caminho para implantes temporários feitos sob medida.
Portanto, no cenário atual da veterinária, podemos dizer que os implantes biodegradáveis são mais realidade em situações específicas e de baixo estresse, enquanto o uso em fraturas complexas ou em animais grandes ainda é promessa de futuro próximo.
Com o avanço de ligas metálicas bioabsorvíveis e o aperfeiçoamento de polímeros reforçados, a tendência é que, em alguns anos, esses materiais passem a competir de forma mais direta com os implantes metálicos tradicionais, trazendo benefícios como redução de complicações e eliminação da necessidade de cirurgias de remoção.
Referências bibliográficas
Staiger MP, Pietak AM, Huadmai J, Dias G. Magnesium and its alloys as orthopedic biomaterials: a review. Biomaterials. 2006;27(9):1728-34.
Böstman O, Pihlajamäki H. Clinical biocompatibility of biodegradable orthopaedic implants for internal fixation: a review. Biomaterials. 2000;21(24):2615-21.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.