Hérnia de disco em cachorro: precisa operar sempre?
- Felipe Garofallo
- 9 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de set.
A hérnia de disco em cães é uma condição neurológica relativamente comum, principalmente em raças de coluna longa e patas curtas, como Dachshund, Shih Tzu, Lhasa Apso e Cocker Spaniel.
Ela ocorre quando o disco intervertebral — estrutura localizada entre as vértebras — se desloca ou se rompe, comprimindo a medula espinhal. Isso pode gerar dor intensa, dificuldade para andar, incoordenação dos movimentos e, em casos mais graves, paralisia dos membros.
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Voltando ao nosso tópico, apesar da gravidade que o termo “hérnia de disco” pode sugerir, nem todos os casos precisam de cirurgia.
O tratamento depende do grau de comprometimento neurológico, da intensidade da dor, do histórico do animal e da resposta às medidas clínicas iniciais. Existem diferentes classificações para os estágios da hérnia, que vão desde dor leve com movimentação preservada até paralisia total com perda da sensibilidade profunda.
Nos casos leves, em que o cão apresenta apenas dor ou leve incoordenação, o tratamento clínico costuma ser suficiente. Ele inclui repouso absoluto por algumas semanas, uso de analgésicos, anti-inflamatórios, protetores gástricos e, em alguns casos, fisioterapia para acelerar a recuperação. O repouso é essencial, pois permite que o edema medular diminua e evita que o disco se projete ainda mais, agravando o quadro.
Já em situações mais severas — como paralisia de um ou mais membros, ausência de resposta à dor profunda ou piora progressiva apesar do tratamento clínico — a cirurgia é altamente recomendada. O procedimento mais comum é a hemilaminectomia, que consiste na remoção da parte do osso vertebral para aliviar a compressão da medula.
Quanto mais precoce for a cirurgia em quadros graves, maiores são as chances de recuperação funcional. É importante ressaltar que o tempo entre o início dos sinais neurológicos graves e a cirurgia é um fator decisivo.
Estudos mostram que cães que perderam a sensibilidade profunda por mais de 48 horas têm um prognóstico significativamente mais reservado, mesmo com intervenção cirúrgica. Por isso, qualquer sinal de perda motora ou dor intensa que não melhora em poucas horas deve ser avaliado com urgência por um médico veterinário, preferencialmente com experiência em neurologia ou ortopedia.
Outro ponto relevante é que, mesmo após a cirurgia, o processo de recuperação pode ser longo e exigir fisioterapia, suporte para locomoção e cuidados domiciliares intensivos.
Em alguns casos, há sequelas permanentes, como dificuldades de andar ou incontinência urinária, embora muitos cães retornem a uma vida normal após o tratamento adequado.
Em resumo, a hérnia de disco em cães não exige cirurgia em todos os casos, mas essa decisão deve ser tomada com base em critérios clínicos e neurológicos bem definidos. O diagnóstico precoce, o acompanhamento de um veterinário especializado e o comprometimento dos tutores com o plano de tratamento são os fatores que mais influenciam no sucesso da recuperação.
Referências bibliográficas:
– Dewey CW, da Costa RC. Practical Guide to Canine and Feline Neurology. 3rd ed. Wiley
-Blackwell; 2015.– Jeffery ND, Barker A, Harcourt-Brown T. Intervertebral disc herniation in dogs: surgery or conservative management? Vet Rec. 2013.
Sobre o autor
Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.