Graus de claudicação em cães
- Felipe Garofallo

- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
A claudicação em cães é uma manifestação clínica de dor, disfunção ou anormalidade locomotora que afeta a marcha de um ou mais membros.

Avaliar o grau de claudicação é uma etapa essencial no exame ortopédico, pois auxilia o médico-veterinário a mensurar objetivamente a gravidade do problema, a monitorar a evolução clínica e a eficácia do tratamento.
Diferentes sistemas de graduação foram propostos ao longo dos anos, sendo alguns mais detalhados e específicos, e outros mais práticos e utilizados na rotina clínica.
De forma geral, os graus de claudicação em cães são classificados de 0 a 5, com o grau 0 representando a ausência de claudicação e o grau 5 indicando a incapacidade total de apoio do membro acometido.
No grau 1, a claudicação é muito discreta, muitas vezes perceptível apenas em pisos lisos ou durante manobras específicas. No grau 2, já há uma irregularidade notável no apoio do membro durante o trote, embora o animal ainda consiga caminhar relativamente bem.
O grau 3 se caracteriza por um apoio intermitente ou visivelmente relutante, com dor evidente em determinados momentos.
No grau 4, o cão praticamente evita o apoio do membro, tocando-o apenas ocasionalmente no chão. Já o grau 5 é observado em cães que mantêm o membro totalmente suspenso, sem qualquer contato com o solo, geralmente associado a dor intensa ou perda neurológica.
A avaliação da claudicação deve ser feita em diferentes pisos, velocidades e direções, pois determinadas lesões se manifestam de forma mais clara durante curvas, subidas ou trotes.
Além disso, o observador deve considerar o porte do animal, a simetria muscular, a presença de crepitações, alterações angulares e até sinais de compensação em outros membros.
O uso de vídeos em câmera lenta e plataformas de força tem ganhado espaço em centros especializados, permitindo uma análise mais precisa da distribuição de peso e da cinemática dos membros. É importante também distinguir entre a claudicação por dor e aquela de origem neurológica.
A primeira geralmente apresenta dor à palpação, aumento de temperatura ou limitação de movimento. Já as causas neurológicas envolvem alterações proprioceptivas, reflexos anormais e atrofia muscular desproporcional.
Em alguns casos, a claudicação é discreta ou intermitente, dificultando o diagnóstico. Nessas situações, exames complementares como radiografias, tomografia computadorizada, ressonância magnética, mielografia e exames laboratoriais são indispensáveis.
Cabe destacar que a evolução da claudicação também deve ser documentada ao longo do tratamento. O uso de escalas padronizadas permite comparar a resposta terapêutica de forma objetiva, inclusive em estudos clínicos.
Em cirurgias ortopédicas, como a correção da luxação de patela ou a osteotomia de nivelamento do platô tibial (TPLO), a redução progressiva da claudicação nas semanas pós-operatórias é um dos principais indicadores de sucesso.
Portanto, a correta classificação do grau de claudicação é um componente central da avaliação ortopédica em cães. Ela exige conhecimento técnico, sensibilidade clínica e, quando necessário, o auxílio de tecnologias para garantir um diagnóstico preciso e um plano terapêutico adequado.
Reconhecer precocemente alterações na marcha pode fazer a diferença entre um tratamento conservador eficaz e a necessidade de intervenções mais invasivas.
Referências bibliográficas:
Fossum, T. W. (2018). Small Animal Surgery. 5th edition. Elsevier.
Millis, D. L., & Levine, D. (2013). Canine Rehabilitation and Physical Therapy. 2nd edition. Saunders.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.