GLA em cães
- Felipe Garofallo

- 16 de ago.
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Atualizado: 12 de set.
O GLA (ácido gama-linolênico) é um ácido graxo poli-insaturado da família ômega-6, derivado do ácido linoleico por meio da ação da enzima delta-6-dessaturase. Ele está presente em concentrações significativas em óleos vegetais como o óleo de borragem (Borago officinalis), óleo de prímula (Oenothera biennis) e óleo de groselha-negra (Ribes nigrum).

Apesar de o ácido linoleico ser abundante na dieta dos cães, o GLA propriamente dito é relativamente raro nos alimentos e, em alguns casos, a conversão endógena pode ser limitada, especialmente em animais idosos, com doenças crônicas ou em condições de estresse metabólico.
O GLA é precursor do ácido dihomo-γ-linolênico (DGLA), que compete com o ácido araquidônico pela via das ciclooxigenases e lipoxigenases, resultando na produção de eicosanoides de perfil anti-inflamatório, como a prostaglandina E1 (PGE1). Esse mecanismo confere ao GLA um papel modulador da inflamação, ajudando a reduzir sinais clínicos em doenças inflamatórias crônicas.
Na medicina veterinária, a suplementação com GLA é mais conhecida por seu uso em doenças dermatológicas, especialmente na dermatite atópica canina, onde auxilia na melhora da barreira cutânea, na redução do prurido e na diminuição da perda transepidérmica de água. Frequentemente, é utilizado em conjunto com ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA), potencializando o efeito anti-inflamatório e promovendo um equilíbrio mais favorável entre os diferentes eicosanoides.
Além dos benefícios para a pele, o GLA também pode ter papel em protocolos de suporte para doenças articulares, contribuindo para a modulação da inflamação sinovial e ajudando na manutenção da mobilidade em cães com osteoartrite.
Há ainda estudos experimentais sugerindo que sua suplementação pode beneficiar condições como nefropatias e distúrbios imunomediados, embora essas aplicações sejam menos comuns na prática clínica e careçam de evidência robusta em cães.
A suplementação é geralmente segura nas doses recomendadas, mas deve ser cuidadosamente balanceada dentro da dieta, já que o excesso de ômega-6 sem contrapartida adequada de ômega-3 pode favorecer um estado pró-inflamatório.
Produtos de boa qualidade, com padronização do teor de GLA e livres de oxidação, são essenciais para garantir eficácia e segurança. Efeitos adversos são raros, mas podem incluir distúrbios gastrointestinais leves em alguns animais.
Assim, o GLA é um nutriente funcional relevante no manejo de inflamações crônicas, com especial destaque para a saúde dermatológica e articular, desde que usado de forma criteriosa e associado a uma dieta equilibrada.
Referências bibliográficas
Bond R, et al. Effect of supplementation with gamma-linolenic acid on canine atopic dermatitis. J Small Anim Pract. 1993;34(12):587-591.
Watson TDG, et al. Dietary supplementation with gamma-linolenic acid in dogs with naturally occurring atopic dermatitis. Vet Rec. 1998;142(6):145-148.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.