Genu varum e genu valgum em cães
- Felipe Garofallo

- 29 de jul.
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Atualizado: 12 de set.
Genu varum e genu valgum são deformidades angulares que afetam o alinhamento dos membros pélvicos, especialmente na articulação do joelho, e podem comprometer de forma significativa a locomoção e o conforto do cão. Esses termos são emprestados da anatomia humana, mas também se aplicam à medicina veterinária para descrever desvios no eixo dos membros.

O genu varum é caracterizado por um desvio medial da tíbia em relação ao fêmur, ou seja, os joelhos se afastam um do outro, e os pés (ou jarretes) tendem a se aproximar.
Já o genu valgum representa o oposto: um desvio lateral da tíbia em relação ao fêmur, o que faz com que os joelhos se aproximem e os pés se afastem. Essas deformidades podem ser uni ou bilaterais, e variam de casos leves, apenas estéticos, a quadros mais severos, com impacto funcional importante.
As causas podem ser congênitas (presentes desde o nascimento) ou adquiridas. Entre as causas congênitas, incluem-se distúrbios genéticos do crescimento ósseo ou malformações articulares. Já entre as adquiridas, a principal é o fechamento precoce ou assimétrico das placas de crescimento (fises), especialmente após traumas, infecções ou doenças metabólicas.
Certas raças, como bulldogs, pugs, shih tzus e dachshunds, têm predisposição genética a alterações nos eixos dos membros, o que pode culminar em variações de alinhamento consideradas normais dentro do fenótipo da raça, mas que em alguns casos ultrapassam os limites funcionais e exigem intervenção.
Do ponto de vista clínico, cães com genu varum ou genu valgum podem apresentar claudicação (mancar), instabilidade articular, desgaste anormal das cartilagens, luxações recorrentes da patela, e, a longo prazo, desenvolvimento de artrose.
O exame ortopédico detalhado, associado a exames de imagem como radiografias em projeções específicas e, em casos mais complexos, tomografia computadorizada com reconstrução tridimensional, é fundamental para avaliar o grau da deformidade e seu impacto funcional.
O tratamento depende da severidade do quadro e da idade do animal. Em cães ainda em crescimento, técnicas como a epifisiodese (bloqueio cirúrgico de uma parte da fise para orientar o crescimento ósseo de forma compensatória) podem ser eficazes.
Já em animais adultos ou em deformidades graves, a osteotomia corretiva é o tratamento de escolha. Essa cirurgia consiste no corte do osso afetado, reposicionamento do eixo e estabilização com placas e parafusos, visando restaurar o alinhamento normal do membro.
A fisioterapia no pós-operatório, o controle rigoroso do peso corporal e o acompanhamento clínico periódico são fundamentais para garantir uma boa recuperação e preservar a função articular a longo prazo.
O prognóstico, em geral, é bom quando a correção é realizada de forma adequada e antes da instalação de danos articulares irreversíveis.
Referências bibliográficas:
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Brinker, Piermattei and Flo’s Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair (4th ed.). Elsevier.
Fossum, T. W. (2019). Small Animal Surgery (5th ed.). Elsevier.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.