Fraturas expostas em cães: urgência e manejo inicial
- Felipe Garofallo

- 20 de set.
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As fraturas expostas em cães representam uma das situações mais graves e desafiadoras da ortopedia veterinária. Elas ocorrem quando há comunicação entre o foco da fratura e o meio externo, seja por meio de uma ferida cutânea provocada pelo próprio trauma ou pela perfuração da pele a partir de fragmentos ósseos.

Essa exposição do osso ao ambiente externo transforma uma fratura simples em uma emergência médica, devido ao risco elevado de contaminação, necrose tecidual, infecção e complicações sistêmicas.
Do ponto de vista clínico, toda fratura exposta deve ser considerada uma urgência ortopédica e infecciosa. O tempo entre o trauma e o início do atendimento é um dos fatores que mais influenciam no prognóstico.
Isso porque a contaminação bacteriana acontece imediatamente, e quanto mais tempo se demora para intervir, maior o risco de evolução para infecção óssea crônica (osteomielite) ou até mesmo para falhas de consolidação, como pseudoartrose.
O manejo inicial tem como prioridade a estabilização geral do paciente. Muitos cães com fraturas expostas sofreram traumas de alta energia (como atropelamentos ou quedas), sendo fundamental seguir os princípios de atendimento ao politraumatizado: avaliação de vias aéreas, respiração, circulação, controle de hemorragias e estado neurológico. Após a estabilização hemodinâmica, o foco se volta ao membro afetado.
A ferida deve ser rapidamente protegida com um curativo estéril úmido, evitando manipulações excessivas que possam agravar a contaminação.
A irrigação abundante com solução estéril, de preferência sob pressão, é essencial para reduzir a carga bacteriana e remover debris.
O uso precoce de antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro é obrigatório, preferencialmente iniciada ainda antes da cirurgia definitiva, para minimizar o risco de infecção profunda. Quanto à estabilização do osso, a prioridade é proteger tecidos moles e controlar a dor.
Fixadores externos são frequentemente a primeira escolha no manejo emergencial, pois permitem estabilizar a fratura sem comprometer ainda mais a região lesada, além de facilitarem o acesso para trocas de curativos.
Em alguns casos, quando o estado dos tecidos é mais favorável, pode-se planejar a osteossíntese definitiva com placas ou hastes, mas essa decisão depende do grau de contaminação, do tempo decorrido desde o trauma e da condição clínica do paciente.
É importante ressaltar que fraturas expostas são classificadas em graus (de I a III) de acordo com a gravidade da lesão cutânea e do comprometimento dos tecidos moles. Esse sistema ajuda a orientar o prognóstico e a conduta.
Lesões menores e pouco contaminadas têm melhor evolução, enquanto lesões extensas, com esmagamento de tecidos e grande exposição óssea, apresentam risco elevado de complicações e podem até demandar amputação como medida de preservação da qualidade de vida do animal.
Em resumo, fraturas expostas em cães são uma emergência que exige intervenção rápida, combinando estabilização do paciente, antibioticoterapia imediata, limpeza rigorosa da ferida e estabilização provisória do osso.
O sucesso do tratamento depende não apenas da técnica cirúrgica, mas também da rapidez no atendimento inicial e do controle adequado da contaminação. O objetivo final é sempre preservar a função do membro, reduzir complicações e garantir a melhor qualidade de vida possível ao paciente.
Referências bibliográficas
Johnson, A. L., Houlton, J. E. F., & Vannini, R. (2021). AO Principles of Fracture Management in the Dog and Cat. 2nd ed. Thieme.
Piermattei, D. L., Flo, G. L., & DeCamp, C. E. (2006). Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Repair. 4th ed. Saunders.
Sobre o autor

Felipe Garofallo é médico-veterinário (CRMV/SP 39.972) especializado em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos e proprietário da empresa Ortho for Pets: Ortopedia Veterinária e Especialidades.